quarta-feira, 8 de maio de 2024

O Treze perderá o título?

27, abril, 2023

Está marcado para hoje o julgamento de uma Ação do São Paulo Crystal contra o Treze, em que o primeiro pede a condenação do clube de Campina Grande a multa e perda do título, recém-conquistado, do campeonato paraibano.
A pergunta cuja resposta todo o mundo do desporto quer saber é:

O Treze perderá o título?

Antes da resposta, vamos a algumas considerações teórico-práticas:

O direito não se resume à lei, embora ela seja o ponto de partida. Há, porém, outras fontes e uma delas, muito em voga atualmente, é que resolverá a questão: a hermenêutica jurídica.

Precisamos, então, explicar o que seja hermenêutica jurídica e sua “filha”, a interpretação:

A Hermenêutica, segundo Carlos Maximiliano, “tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito”, enquanto a interpretação, no dizer de Pasquale Fiore, tem por finalidade “fixar uma determinada relação jurídica, mediante a percepção clara e exata da norma estabelecida pelo legislador”.

Vamos ao caso concreto:

Como foi dito nas primeiras linhas do Texto, o São Paulo Crystal requer, na Justiça Desportiva, que o Treze perca o título, porque recorreu à Justiça comum, sem que houvesse sido esgotadas todas as instâncias da Justiça especializada.

O argumento do clube de Espírito Santo tem sentido. Tanto a Constituição Federal como o CBJD afirmam isso.

Vejamos:

Artigo 217, § da Constituição Federal:
“§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.”

Artigo 231, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva:
“Art. 231. Pleitear, antes de esgotadas todas as instâncias da Justiça Desportiva, matéria referente à disciplina e competições perante o Poder Judiciário (…). PENA: exclusão do campeonato ou torneio que estiver disputando e multa de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).”

Ocorre que há situações em que o clube pode ir à Justiça comum, antes mesmo de se esgotarem os recursos da Justiça desportiva, desde que a matéria discutida não tenha relação direta com a justiça especializada.

Foi exatamente o que aconteceu. O Treze discutia na Ação uma questão que fugia ao âmbito do desporto: a recomendação do Ministério Público para que os jogos da final tivessem torcida única e o próprio MP alega, nesse tipo de decisão, questões de segurança pública. A matéria foge, portanto, ao âmbito da justiça desportiva. Caberá, então, aos membros do TJDF-PB analisar a questão, valendo-se, para tanto, da hermenêutica jurídica e da interpretação.

O Treze perderá o título?

Não acredito. O Direito protege o clube de Campina Grande.