A história dos locais de disponibilização do transporte intermunicipal e interestadual, tendo como beneficiária a cidade de João Pessoa, passa, de forma mais caracterizada, por seis locais, até o atual Terminal Rodoviário Severino Camelo: o Porto do Capim, no Varadouro, por séculos, à época do transporte marítimo e de hidroaviões; o Porto de Cabedelo, na mesma toada, tirante os hidroaviões; a praça Álvaro Machado também no Varadouro, até as primeiras décadas do Século XIX; a Estação Ferroviária, em frente à Praça Napoleão Laureano, ainda, no Varadouro, chegando aos dias de hoje; a praça Pedro Américo, a do Teatro Santa Roza e dos Correios, na sequência; e a rua Eugênio Toscano, no local conhecido como Primavera, bem próximo ao endereço onde hoje funciona o PAN da Primavera.
Afora o Porto de Cabedelo, tudo isso na parte baixa da cidade. Alguns desses locais chegaram a conviver, e até mantêm convivência, acompanhando a evolução dos meios de transporte e suas coexistências, no tempo. A Álvaro Machado já se prestava a paradas de coletivos para fora de João Pessoa desde o final do Século XIX, no tempo da tração animal, e serviu como referência à estação de trem da Great Western, em sua primeira versão. Por sua vez, o terminal rodoviário da Primavera se postou como local de embarque e desembarque de viajantes intermunicipais e interestaduais até o ano de 1982.
Nesse ano, foi desativado enquanto tal, por se configurar completamente inapropriado para a quantidade de ônibus e de passageiros, quando da construção de nova e mais ampla estação rodoviária à beira da avenida Varadouro, justamente a que tomou o nome de Severino Camelo. Dessa maneira, retornando à região onde originalmente funcionava a primeira parada das chamadas ‘sopas’, aquela da Álvaro Machado. Na Primavera, bem próximo da rua da República, em linha direta com a Ponte do Baralho, caminho obrigatório dos ônibus que vinham do interior, como em toda e qualquer rodoviária, funcionavam escritórios avançados de empresas de transportes, guichês de passagens, lojas e bares.
Além de uma legião de trabalhadores braçais conhecidos como “chapeados”, por serem “fichados” em organismo normatizador próprio, e que ostentavam uma pequena chapa metálica na parte de cima da camisa, com nome e sobrenome. Eram os carregadores de bagagens definidos legalmente para o ofício. A velha Estação da Primavera, a uma relativamente breve escadaria e uma rápida ladeira, da Praça João Pessoa, marcou época, não apenas enquanto parada de coletivos, mas também como alternativa à boêmia pessoense. Nas décadas de 1960 e 1970, não era muito incomum encontrar Jackson do Pandeiro, por ali, a aguardar transporte, para dentro ou para fora do estado, acompanhado de Parrá e Livardo Alves, curtindo e dando canja nos bares locais.
Outros artistas, em trânsito ou não, pessoas do povo, poetas e intelectuais também frequentaram seus botecos, com suas bebidas e tira-gostos, em meio ao movimento de passageiros. Evidentemente, não eram poucas as confusões naturalmente produzidas em ambientes etílicos, embora existisse um posto policial, com direito a xadrez próprio, na velha rodoviária, o que ajudava a reduzir o ímpeto e o tamanho das discórdias. Muita gente que construiu suas vidas na capital paraibana desembarcou, procedente do Interior ou de outros estados, na velha rodoviária da Primavera.
Foi, assim, o primeiro contato em terra firme com a cidade de João Pessoa, permanecendo na memória afetiva de muita dessa gente. Por essas e outras, a velha Estação Rodoviária da Primavera, com todo o rol de acontecimentos e personagens aos quais serviu de cenário, é um pedaço inesquecível da memória pessoense. Foi mais do que um ponto de trânsito, porque acabou sendo um dos palcos da vida cotidiana e da cultura local. Dessa forma, não só representa uma recordação em pedra e cal, mas também, parte das lembranças intangíveis da cidade de João Pessoa. Importante preservar aquele prédio todo.
(A imagem da velha Estação Rodoviária da Primavera é de um recorte de jornal publicado pelo site paraibano Ônibus & Transporte)