O fato de nunca ter frequentado a Cruzada, em Jaguaribe, comandada por Frei Albino, não impediu que a iniciativa católica se tornasse um dos ícones do meu tempo de infância e de juventude em João Pessoa. Polivalente, o padre franciscano, de origem alemã, também comandou o alvi-celeste Estrela do Mar, campeão paraibano de futebol em 1959, com um time de coroinhas. (O Estrela, que ocupou muitas crianças e adolescentes com o esporte, livrando-as da ociosidade que termina conduzindo a um mundo de encruzilhadas perigosas). O mesmo Frei Albino tinha ainda sob os seus cuidados a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, no mesmo bairro.
As histórias que colegas jaguaribenses contavam do Estrela do Mar, da Cruzada e do Frei Albino, mencionado pelos meninos com grande admiração, causavam em mim, quando criança, uma imensa curiosidade. Frei Albino forjou o caráter e a cultura de mais de uma geração de pessoenses, podendo ser considerado, portanto, como um dos formadores do espírito da cidade de hoje.
Aliás, Jaguaribe está para João Pessoa assim como o mangue para os mares. É o bairro onde teve origem e se reproduziu boa parte de nossa cultura, das nossas manias, dos nossos medos e desejos, do jeito de ser do pessoense contemporâneo. Todo esse cadinho espiritual se desenvolvia paralelamente às atividades de Frei Albino e de sua Cruzada, do Estrela do Mar e dos ensinamentos católicos ministrados pelos franciscanos nos confessionários e na casa paroquial do Rosário.
Ostentando o nome do maior, do mais importante e do único rio autenticamente pessoense, o bairro de Jaguaribe, ou do Jaguaribe, sempre deu guarida, dentro de seus limites territoriais, às mais expressivas manifestações culturais de João Pessoa.
À guisa de breve digressão, considero que a história das cidades, do ponto de vista humano, se constrói também com gente, assim, e não apenas com os naturais da terra. Deste ponto de vista, ao longo da história pessoense, estrangeiros, como os franciscanos do Frei Albino, e ainda Frei Tito e Frei Constantino, deixaram suas contribuições, inestimáveis, sem qualquer dúvida, à nossa formação.
Parte do que somos, hoje, aqui em João Pessoa, do ponto de vista humano, nós devemos à influência dessa gente, especialmente eles, os franciscanos do Rosário que, pelos relatos, souberam, humildemente, aprender com o povo que lhes deu acolhida. Neste aspecto, o da mistura de influências pelo mundo afora, é impossível negar a elevada participação da Igreja Católica, conforme o ângulo e a época em que seja observada essa participação.
As cruzadas de evangelização e catequese transportaram clérigos e leigos versados nos mistérios daquela religião, pelo mundo afora. Acredito que, feito um levantamento minucioso, não haja um lugar na Terra que não tenha sido visitado por um representante do catolicismo, de Cristo até os dias de hoje. Foi assim que os franciscanos de Albino vieram parar em João Pessoa, partindo, depois, a outras plagas.
Naqueles tempos, sua presença foi constante, influenciando não apenas os jovens – em meio aos quais ele mais determinadamente exercia seu trabalho apostolar – mas, de igual jeito, os adultos. Para mim, Frei Albino soa tão pessoense quanto qualquer outro nascido por aqui.
(A foto é da Igreja Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, em Jaguaribe, onde atuou o Frei Albino)