No dia 19 de fevereiro de 1914, a cidade da Parahyba (atual João Pessoa), capital do Estado de Parahyba do Norte, acelerava o passo em direção ao futuro, enquanto uma urbe moderna. Naquele dia, uma quinta-feira, a Empresa Tração, Luz e Força, fornecedora de energia elétrica à capital paraibana, passava a oferecer o serviço de bondes não mais tracionados por cavalos e muares, mas pela força da eletricidade.
No lugar onde hoje pontifica a animada Usina Cultural Energisa, em Cruz do Peixe, final de Tambiá, quatro novos e modernos veículos sobre trilhos, destinados a passageiros, foram postos em circulação, debaixo de muita pompa. Os bondes se ligavam (e ainda se ligam, uma vez que há muitos bondes circulando no mundo, inclusive no Brasil) à rede elétrica por meio de uma haste coletora, presa à parte superior do veículo, a tocar uma linha energizada suspensa bem acima dos trilhos. Dezenas de pessoas se encontravam no local transportadas, uma última vez, pelos bondes de tração animal.
De carro elegante, chegou o presidente do estado (1912-1915), João Pereira de Castro Pinto, que substituiu no cargo o operoso João Lopes Machado (1908-1912), que havia contratado todo o serviço, ao tempo de seu governo. Na companhia de Castro Pinto, autoridades civis, militares e eclesiásticas. Às 9 horas, os quatro veículos deixaram a estação de Cruz do Peixe conduzindo autoridades e convidados, à frente o do presidente Castro Pinto, que pôs a máquina em movimento. Ao longo do percurso, “em todas as ruas, pelas janelas e varandas, o povo e todas as distintas famílias de nossa sociedade aguardavam a passagem triunfal dos belos veículos, sendo geral a satisfação incontida da parte de todos”, descreveu matéria de A União, no dia seguinte ao acontecimento.
Os veículos percorreram, assim, debaixo de muita euforia, a estrada de Tambiá, a Duque de Caxias, praça Álvaro Machado, Maciel Pinheiro, Barão do Triunfo e a atual Guedes Pereira, parando na subestação do Ponto de Cem Reis, onde se deu a inauguração oficial do serviço. Os bondes elétricos operaram em João Pessoa por quase 50 anos, com o serviço sendo extinto na administração do prefeito Apolônio Sales de Miranda (1955-1959).
Embora os bondes elétricos ainda tenham rodado até o início da década de 1960, quando então o poder público cobriu de asfalto os trilhos, em meio aos paralelepípedos, adaptando a via urbana ao tráfego dos veículos a motor de combustão, cada vez mais numerosos. Saudade dos bondes, eternos nos corações de diversas gerações de pessoenses!