A Pedra do Reino, localizada em São José do Belmonte, Pernambuco, muito mais que uma formação rochosa peculiar, serviu de palco a uma história fascinante e trágica. O enredo se entrelaça com o sebastianismo, uma crença messiânica portuguesa a aguardar o retorno do rei Dom Sebastião, desaparecido na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. No século XIX, essa crença achou terreno fértil no Sertão nordestino, e a Pedra do Reino (ou Pedra Bonita) se tornou berço de um movimento liderado por João Antônio dos Santos (depois, pelo seu cunhado João Ferreira).
Ele pregava que Dom Sebastião estava encantado na pedra e que, para libertá-lo e instaurar um reino de justiça e prosperidade, era necessário “lavar” a pedra com sangue. A crença levou a uma série de sacrifícios humanos, resultando em um massacre nos idos de 1838. O líder do movimento – agora, João Ferreira – foi morto pelos próprios seguidores, na crença de que ele tinha virado obstáculo ao desencantamento do rei.
A história da Pedra do Reino tem muito a ver com a Paraíba, não só porque gente da terra, principalmente do Vale do Piancó, estava entre os sacrificados, mas porque terminou inspirando o romance “A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, do paraibano Ariano Suassuna, que retratou o episódio místico e a cultura sertaneja com grande maestria. Suassuna misturou o real com o imaginário, tornando a Pedra do Reino símbolo literário da resistência cultural nordestina.
Tem ainda o romance Pedra Bonita, do também paraibano José Lins do Rego, que referencia o sítio. E ainda a minissérie “A Pedra do Reino”, a partir de Suassuna, exibida pela Globo em 2007, com cenas gravadas em Taperoá, na Paraíba. Localizado no Centro de Convenções de João Pessoa, o Teatro Pedra do Reino, igualmente, homenageia a obra de Ariano Suassuna e a história que o inspirou. A pedra, hoje, atrai turistas e estudiosos, em especial durante a Cavalgada que acontece anualmente, simbolizando a funesta saga.
A foto é da Pedra do Reino, do site Destino Paraíba (do governo paraibano).