A rua Arthur Aquiles, que liga as ruas Visconde de Pelotas e Treze de Maio, no meu tempo de infância e parte da juventude, era marcada, nas esquinas da Visconde de Pelotas, pela Padaria Paraibana, de Genival Carneiro, ao norte, onde presentemente opera uma loja de modas, e ao sul, pelo Hospital de Ponto de Socorro, que já foi Telpa e hoje é uma empresa de engenharia. Nas esquinas da Treze de Maio, ao norte, pela pensão de Dona Cecília (mãe do jornalista e homem da cultura, Raimundo Nonato Batista, ambos, de saudosa memória), hoje loja de roupa, e ao sul, pela residência de Doutor Orlando Barbosa e Dona Estela, atualmente uma lanchonete.
De frente para a rua, na Duque de Caxias, havia a residência de João Minervino, por um tempo, dono do Paraíba Hotel, imóvel que atravessava o quarteirão até alcançar a Duque de Caxias, com direito a recuos em ambas as extremidades, e de frente para a via, na 13 de Maio, o sobrado onde morava e atendia o Doutor Heronides Coelho, médico psiquiatra e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP). Hoje, na Visconde de Pelotas, o que ocupa o antigo espaço de Minervino é uma agência do Bradesco. Enquanto no lugar do antigo sobrado de Doutor Heronides, na Treze de Maio, agora existe o Clube dos Diretores Lojistas.
A rua se configura, portanto, no coração da cidade de João Pessoa, quase vizinha ao Ponto de Cem Reis, sendo palco e local privilegiado de observação da vida pessoense. Foi nessa rua que nasci e morei até os 16 anos, e que me permitiu vivenciar muitos acontecimentos e transformações físicas e operacionais da cidade de João Pessoa, a exemplo da circulação de bondes, pela Visconde de Pelotas, e do seu fim, com a cobertura dos trilhos por uma camada fina de asfalto que, muitas vezes, pela ação do tempo, acabava se desmanchando e redescobrindo os velhos trilhos.
Pela Arthur Aquiles transitaram, em diversos momentos, praticamente todas as principais figuras do folclore pessoense aos quais venho me referindo em crônicas memorialistas. O nome da rua homenageia prestigiado jornalista nascido em Pedras de Fogo e que marcou época na imprensa pessoense. Arthur Aquiles (1864-1916), também grafado como Achiles, fez duro combate aos governos de Álvaro Machado (1892-1896 e 1904-1905) e de José Peregrino de Araújo (1900-1904). Em função de sua combatividade, viu dois dos jornais em que trabalhava serem empastelados, incluindo máquinas depredadas, violência que repercutiu até na capital federal, Rio de Janeiro. Jornalista, político e filósofo, Aquiles é patrono da cadeira 7 da Academia Paraibana de Letras e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP).
No meu tempo, todas as casas da rua eram habitadas por gente com nome, sobrenome, filhos, filhas e vida social. Os carros, no período (1950-1960) eram muito raros, tanto que, apesar de enladeirada, possibilitava aos pequenos jogar bola no calçamento de paralelepípedos, embora muitas vezes com resultados ruins para dedos e sola dos pés. Grandes filmes no Plaza produziam filas que terminavam ocupando toda a calçada norte da rua.
A Arthur Aquiles surgiu como travessa entre a Visconde de Pelotas e a Treze de Maio, ao tempo que a cidade se aproximava mais da Lagoa dos Irerês, acompanhando sua urbanização, no governo de Sólon de Lucena. Bem diferente do tempo em que servia essencialmente a moradias, hoje na Arthur Aquiles não mora mais ninguém, sendo inteiramente ocupada por empreendimentos econômicos privados e por carros estacionados, o que a torna ainda mais estreita.
(Na foto, de minha própria lavra, a rua Arthur Aquiles, a partir da Visconde de Pelotas, vendo-se ao fundo, na Treze de Maio, o Clube dos Diretores Lojistas)