quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A Sanbra

25, agosto, 2024

Não é possível falar da Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro-Sanbra, sem evitar o banzo. Sendo um dos tentáculos da internacional Bunge, ainda hoje em atividade no mundo, a Sanbra, que processava agave e algodão, tem especial significado para o Estado da Paraíba. Ainda mais para Campina Grande, onde se instalou, a partir de 1935, no governo estadual do campinense Argemiro de Figueiredo. A existência da empresa na Rainha da Borborema coincidiu com o boom da produção algodoeira no estado, quando Campina Grande representava importante centro econômico.

De tal forma, que a cidade paraibana chegou a ser chamada de Liverpool brasileira, em comparação à pujança daquela cidade inglesa no comércio internacional (Campina alcançou a posição, no comércio algodoeiro, de segunda do mundo). Conheci a Sanbra entre menino e pré-adolescente, nas décadas de 1950 e 1960, quando passava férias no Cariri e tinha a oportunidade de ir a Campina Grande, aos sábados, com o dono de fazenda (saudoso Jaime Barbosa, o pai), amigo da família, para negociar a produção própria de queijo, gado e agave, oportunidade em que ele comprava casca e farelo de algodão na Sanbra, transportando tudo em seu caminhão.

É que o gado, nas bravas condições do clima caririseiro somente sobrevivia, em alguns períodos, na base do confinamento. Lembro muito do intenso movimento de caminhões, nos armazéns da Sanbra, atendidos por um grande contingente de trabalhadores (chego a saber, hoje, que poderiam ser contados na casa das centenas). A empresa, na condição de âncora econômica, provocou desenvolvimento na infraestrutura local, atraiu outras empresas parceiras ou fornecedoras, tornou a cidade mais atraente a investimentos, e aumentou a oferta de empregos diretos e indiretos, influenciando existencialmente a vida urbana campinense. Os investimentos paulistas na produção algodoeira, e, enfim, a praga do bicudo na cultura agrícola específica, no Nordeste, enterraram a Sanbra, no estado, que não se foi sem deixar profundas marcas sentimentais na história de Campina Grande.

Na foto (do IBGE), maquinário da Sanbra, em Campina.