Diz a lenda contada pelos nativos paraibanos que a Bica do Tambiá surgiu como consequência de copiosas e sofridas lágrimas derramadas pela potiguara Aipré, em inconsolável choro pela morte do amado Tambiá. A narrativa mítica continua sendo a única beleza, contada em placa informativa, no local, para a gente se deleitar junto à fonte que originou e consagrou o nome de um parque que só atende pelo nome de Bica, em lugar do oficial Arruda Câmara, uma figura paraibana envolvida com as coisas da natureza e digna do maior respeito histórico. O povo pede desculpa pela incontornável força do hábito.
O que não tem desculpa à mão é o descaso que continua a impedir a revitalização do monumento, construído em 1782, visando adornar a fonte preexistente, e que sofreu intervenções em 1889 e 1921, para nunca mais. O resultado é que o cenário que cerca a Bica do Tambiá, que já matou a sede da cidade em construção, continua desolador. Registrei a situação, mais uma vez, neste sábado, 29, num intervalo do Festival Literário Internacional da Paraíba. A antiga construção de pedra segue tomada por musgo, raízes e plantas, reforçada com escoras de madeira sinalizando fragilidade, que servem de anteparo contra o desabamento.
Enquanto isso, Prefeitura e Iphan (o instituto nacional que cuida do patrimônio brasileiro e que já tombou a referida fonte desde a década de 1940) prosseguem o debate sobre a sua recuperação. O último, em forma de audiência, aconteceu em agosto, teve participação da Advocacia Geral da União e do Ministério Público e terminou com o compromisso de a prefeitura empreender novas obras de sustentação. Nem isso, até agora teve sequer início. A restauração é que não tem prazo, mesmo. Será que vamos ter de esperar pelo arruinamento para, ao invés da revitalização, ser erguida alguma modernidade no lugar?
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