quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Anotações sobre Esther Fialho Rodrigues dos Anjos, a viúva do “Eu”

25, março, 2024

Em 9 de janeiro de 1915, o jornal Estado de São Paulo publicou a seguinte nota: “Embarcou hoje, nesta cidade, com destino a Parahyba do Norte, a exma. Sra. D. Esther Fialho dos Anjos, viúva do sr. Augusto dos Anjos. Ao seu embarque compareceram muitas famílias de nossa sociedade”. Casada desde 4 de julho de 1910 com o poeta do “Eu”, Esther, nascida na capital paraibana em 21 de novembro de 1887, filha do médico Agnello Candido Lins Fialho e de Michelina Amelia Monteiro Fialho, residentes na rua Duque de Caxias, voltava então à terra natal de onde havia saído com o marido para o Rio de Janeiro, cidade onde sofreram as maiores amarguras relacionadas à sobrevivência.

Ainda na capital federal, Esther viu nascer morto o primogênito do casal. Foi também no Rio que Augusto dos Anjos ensinou, na condição de interino, na Escola Normal e no Internato Pedro II, e onde publicou seu único livro, pago pelo irmão. Contudo, sem receber qualquer reconhecimento público, ganhando pouco e vivendo em pensões. Decorrente das dificuldades financeiras, o casal teve de conviver com forte depressão experimentada pelo poeta, que muito reclamou da falta de amparo da parte da bancada federal paraibana na capital brasileira.

Foi daí que Augusto conseguiu por meio de um contraparente o emprego de diretor do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira, em Leopoldina, cidade mineira onde até hoje continua sendo alvo das maiores homenagens a cada aniversário de nascimento, apesar de ter passado por lá apenas 5 meses entre a chegada (22 de junho de 1914) e a morte, causada por uma pneumonia aguda. Augusto dos Anjos havia falecido em 12 de novembro de 1914, menos de um mês antes do embarque de Esther Fialho Rodrigues dos Anjos (seu verdadeiro nome de casada) de volta para a capital paraibana.

Em Parahyba do Norte, Esther aportou com os dois filhos do casal Guilherme e Glória, nascidos no Rio. No entanto, não permaneceu até o fim de sua vida em sua cidade natal. Em 1923, já residindo novamente em Leopoldina, onde Augusto era venerado, se casou com o poeta e professor manauara, Júlio Ferreira Caboclo, que havia chegado a Leopoldina um ano antes. Mas que se tornara, enquanto teve vida, o maior divulgador de Augusto dos Anjos (a quem chamava de “o rapaz do cérebro de ouro”), tendo sido responsável pela criação do Grêmio Lítero-Artístico Augusto dos Anjos, em 1922, naquela cidade mineira, e autor de poesias de amor, em francês e português, dedicadas a Esther.

Com Júlio Caboclo, Esther teve três filhas, Selma, Elida e Maria Elisa (esta última falecida apenas 15 dias após o nascimento). Esther faleceu 4 dias antes da filha caçula, em 17 de maio de 1931. (Detalhe: Júlio Caboclo, após a morte de Esther, foi filiado à Ação Integralista, criada em finais de 1932, embora seus biógrafos registrem poemas dele dedicados a feministas. Mas essa é uma outra história, que não cabe aqui).

(Na foto do Iphan, a casa onde moraram Augusto dos Anjos e Esther, em Leopoldina-MG)