Quanto mais as árvores estiverem ligadas às vivências coletivas, mais peso histórico terão. Há, pelo menos, três exemplos, na paisagem sempre muito verde da cidade de João Pessoa, que mantiveram significativa ligação com a urbe pessoense, enquanto viveram, e que, por isso, permanecem na minha memória de criança e adolescente.
De comum, possuíam elevado porte e se erguiam majestosas no cenário urbano da capital paraibana, derramando sombra generosa por vasta área onde fincaram suas enormes e portentosas raízes. Uma delas existiu bem no caminho que muitas vezes percorri quando retornava do Pio XII ou, em outro tempo, do Lins de Vasconcelos, para a minha residência, ali mesmo no Centro da cidade. Falo num belo Pé de Ficus, na Praça Rio Branco, mais para a Duque de Caxias, bem em frente à antiga Rádio Patrulha e ao lado da Delegacia da Receita Federal. A outra, uma gameleira, também pertencente à família do Ficus, que havia no Roger, plantada no início da década de 1960, e que passou a ser referência a moradores e a quem quisesse melhor se achar naquele tão tradicional bairro de João Pessoa.
A gameleira do Roger, na avenida Dom Vital, foi uma dessas árvores que marcou a vida diária da cidade das Acácias, fazendo parte das lembranças, não apenas da população local, como de todos os que, um dia, passaram por baixo ou ao largo de sua sombra. Em sua existência, a gameleira do Roger acabou substituindo o próprio nome da rua, já que uma parte da Dom Vital passou a ser conhecida, durante o tempo de vida da árvore, como rua da Gameleira.
Enfim, mais uma gameleira, plantada no início da praia de Manaíra, na altura do antigo Elite Bar, que fazia grande sucesso. A gameleira de Manaíra servia de refúgio contra o sol a quem procurava a praia, em João Pessoa, vindo dos mais diversos municípios do estado, bem como, é claro, da própria capital paraibana. Existiu ali no final da Rui Carneiro, fazendo parte do cenário onde por muito tempo pontificou o nunca esquecido Elite Bar.
De tão marcante, o local ainda é conhecido como Largo da Gameleira. O tempo, junto com o crescimento da malha urbana pessoense, aí incluídas, é claro, as calçadas e o asfaltamento das ruas, acelerando o envelhecimento das árvores, já incômodas por conta de suas proeminentes raízes, se encarregaram de matar esses espécimes da flora que, por algum tempo, embelezaram João Pessoa.