domingo, 7 de dezembro de 2025

As casas parede-meia que fizeram a João Pessoa dos primeiros séculos

28, outubro, 2025


Sérgio Botelho – Ao caminhar pelas ruas do Centro Histórico de João Pessoa, logo é possível perceber uma distinção com respeito ao modelo de casas que existiu por muito tempo no processo de construção da cidade.

As ruas do centro de João Pessoa nasceram assim: casas geminadas, uma encostada na outra, aproveitando a parede da outra, formando longas fileiras de fachadas contínuas que, vistas de longe, pareciam muros ornamentados.

Essa maneira de construir vinha do costume português, herdado das vilas coloniais, onde cada palmo de terreno urbano era valioso e a vizinhança se fazia utilizando as paredes uns dos outros.

Era, assim, um modo prático de ocupar o espaço, mas também uma expressão de convivência: quem morava numa dessas ruas vivia em contato direto com o som, o cheiro e o ritmo da vida alheia.
Nos primeiros séculos, essas moradias geminadas ocupavam principalmente o Varadouro, a antiga área portuária, acompanhando o traçado das ladeiras que levavam às ruas Nova e Direita.

Eram casas térreas ou de um só pavimento, com portas altas, janelas emolduradas e quintais extensos. Por fora, alinhavam-se como se fossem parte de um único corpo.

Durante muito tempo, esse tipo de rua foi o coração da vida urbana pessoense. Nelas, os vendedores passavam anunciando mercadorias, as crianças brincavam nas calçadas e as portas ficavam abertas, como convites à conversa.

As paredes em comum favoreciam o calor, mas também criavam laços de solidariedade: era natural pedir sal ao vizinho pelo quintal ou pelo postigo ou ouvir o rádio da casa ao lado como se fosse o próprio.

Com o avanço do século XX, a cidade começou a se abrir. As novas avenidas, os automóveis e os edifícios modernos quebraram o ritmo dessas ruas parede com parede.

Ainda assim, quem caminha pelo centro histórico ainda encontra trechos preservados desse antigo modo de morar. São ruas que lembram um tempo em que a cidade se fazia de vizinhança, e cada parede compartilhada era também uma fronteira de afeto.
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