A programação das retretas da Praça João Pessoa, desde quando chamada de Passeio Público e Praça Comendador Felizardo, em seus tempos áureos, era anunciada nos jornais locais, especialmente em A União. No anúncio, a relação das músicas que seriam executadas pela banda escalada. E não precisava ser exatamente um final de semana. Vi anúncio em A União de retreta marcada para uma quarta-feira, entre as 19 e as 21 horas.
Uma das bandas mais comumente utilizadas nas retretas da Praça João Pessoa era a do 22º Batalhão de Caçadores, entre 1919 e 1941, o que prosseguiu após transformado em 15º Regimento de Infantaria, hoje 15º Regimento de Infantaria Motorizado ou Regimento Vidal de Negreiros. Mas também a banda da Polícia Militar da Paraíba, que sempre gozou de muito prestígio na cidade. Em outros momentos, havia retreta também na Praça Venâncio Neiva, a do Pavilhão do Chá, ali vizinha à João Pessoa, e ainda em largos de igrejas, a exemplo do que se abre à frente da Igreja de São Frei Pedro Gonçalves.
As retretas em praças públicas, especialmente naquelas onde havia um coreto, foram manifestações culturais ricas em significado social. Esses eventos desempenharam em tempos de antanho um papel importante na vida social da capital paraibana, oferecendo um espaço de lazer, cultura e interação social. Estamos falando de quando as oportunidades de contatos entre os sexos eram bem restritas, e, portanto, as retretas funcionavam como um espaço social onde jovens podiam se encontrar e interagir de maneira relativamente livre, ainda que sob o olhar policialesco da comunidade. Dessa forma, as retretas, em João Pessoa, tiveram elevada importância na emancipação feminina. Imagine uma cidade onde as moças, que viviam basicamente trancadas em casa, no máximo debruçadas nas janelas, achavam uma forma de se comunicar com outras jovens e… rapazes!
As bandas ocupavam o coreto enquanto as moças passeavam pela calçada e os rapazes se postavam ao largo dessas mesmas calçadas. Uma esbórnia para os costumes da época! Embora não se ousassem tocar, a troca de olhares era o suficiente para provocar emoções interiores indizíveis, engatando namoros e casamentos. Um acréscimo de autoestima formidável e inimaginável frente às torturantes restrições morais da época. Hoje, os tempos são outros!
(A foto, do Museu Aeroespacial da Força Aérea Brasileira, mostra à direita a Praça Venâncio Neiva, com o Pavilhão do Chá, e ao fundo, a Praça João Pessoa. Foram as duas praças mais utilizadas para as retretas)