Antigas casas de comércio, mesmo que não tão portentosas, econômica e fisicamente, guardam perfil memorial e simbólico importante para as cidades. Mesmo que não mais existam, esses estabelecimentos acabam se tornando referências na trajetória urbana local, associadas a nomes de famílias, a cheiros característicos, a endereços, a histórias vividas.
Um desses estabelecimentos existiu em João Pessoa, seguramente até a década de 1960, sendo normalmente lembrada por memorialistas locais. Estou falando da Casa Clara, uma loja especializada em produtos de beleza, que existia na esquina Oeste-Norte das ruas Visconde de Pelotas com a Miguel Couto, endereço que se tornou marcante na vida pessoense de outrora.
As Lojas Claras, que pertencia à família Chianca, tinha fama por ocupar um lugar de destaque na urbe. Com efeito, a Visconde de Pelotas, uma das três ruas que deram origem ao traçado urbano da cidade alta, sempre foi, por isso, de grande importância. Assim, atravessou os tempos de Rua da Cadeia e Rua das Mercês, até receber o nome de um combatente gaúcho da Guerra do Paraguai.
Em frente à Casa Clara, bem rente ao meio fio de sua calçada, transitava regulamente o bonde que ia do Ponto de Cem Reis a Mandacaru, mas também a Torre, Expedicionários, Tambauzinho, Miramar e Tambaú. Portanto, um ponto de grande visibilidade, ainda mais exposto pela presença urbana, na esquina transversalmente posta, do Hospital de Pronto Socorro.
Nas vizinhanças da Miguel Couto, havia famosas e muito frequentadas barbearias, com pais e mães se revezando com a gurizada para cortes de cabelo. Por ali, ainda, a movimentada sede central do Esporte Clube Cabo Branco e do restaurante Lido, da Igreja da Misericórdia, além, claro, do sempre irrequieto Ponto de Cem Reis. Afora as tradicionais e populares procissões.
Portanto, a Casa Clara era tudo isso e de tal forma que virou um símbolo do espírito pessoense, local de referência entre histórias e personagens que ajudaram a construir a identidade da cidade. Apesar de cada vez mais distante no tempo, a memória afetiva da cidade a preserva.
Na foto, trecho da Miguel Couto onde ficava a Casa Clara, na esquina, à esquerda da foto, com a Visconde de Pelotas (o ponto vermelho antes das sobrinhas).