domingo, 7 de dezembro de 2025

Cinemas de rua e de shopping

5, dezembro, 2025

Nesta quarta-feira, 03, na abertura do Fest Aruanda, ao cruzar os imensos e luxuosos espaços que abrigam as salas de cinema do Manaíra Shopping, me vieram à lembrança os antigos cinemas de rua dos tempos de criança e adolescente, em João Pessoa.

Pelo que a memória me permite, pedindo desculpa por naturais lapsos na listagem, somente na área central da cidade, incluindo o Varadouro, chegaram a funcionar nove salas de cinema. O Plaza, o Rex (na foto) e o Municipal eram os mais notáveis. Mas também havia os Cines Brasil, Felipéia, Astória e São Pedro. Acrescente-se, em algum momento, o Teatro Santa Roza e o Popular.

Esses cinemas de rua eram parte naturalizada da vida da cidade, integrados ao cenário urbano e se espalhando pelos bairros de Cruz das Armas, Jaguaribe e Torre. Estavam situados na calçada, na companhia de bares, padarias, bancas de revista, marcando os caminhos diários de uma grande parte da população.
Em quantidade, as atuais salas dos shoppings podem até já ter superado a dos velhos cinemas de rua. A mudança reside na distribuição desses espaços e, consequentemente, no modo de ir ao cinema, uma vez que funcionam em grandes estruturas privadas e em pouquíssimos pontos da cidade.

O conforto técnico é inegavelmente superior. Na totalidade dessas salas, som, imagem e climatização seguem padrões elevados. (Embora, uma “caixa preta” semelhante em qualquer lugar do país).

A concentração de salas, no entanto, provoca um efeito negativo na dinâmica urbana. Bairros que cresceram, ganhando comércio e serviços, não dispõem de seus próprios cinemas. Seus moradores dependem de longos deslocamentos para assistirem a um filme. Sem falar que o ambiente de shopping costuma ser, por natureza, intimidativo e excludente para as camadas mais pobres.

Nada contra os cinemas dos shoppings. São estruturas maravilhosas. Apenas considero que os poderes públicos deveriam ir além dos limites autoimpostos pela iniciativa privada. Penso que salas públicas e espaços alternativos devem existir e precisam de políticas específicas. Sem isso, o resultado é a exclusão cultural.


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