quinta-feira, 21 de novembro de 2024

João Goulart em João Pessoa e Campina Grande

15, março, 2024

Na segunda-feira, 30 de julho de 1962, o presidente da República João Goulart veio à Paraíba, quando discursou em João Pessoa e Campina Grande (onde foi agraciado com o título de Cidadão Campinense). Naquele momento, o Brasil experimentava ainda o regime parlamentarista, instituído para permitir a posse presidencial de Goulart (que viveu entre 1919 e 1976, tendo governado o Brasil entre 8 de setembro de 1961 e 1 de abril de 1964, quando foi derrubado por um golpe militar), após a renúncia de Jânio Quadros (que viveu entre 1917 e 1992, e governou o Brasil entre 31 de janeiro e 25 de agosto de 1961).

Quem o recebeu foi o então governador Pedro Moreno Gondim (1914-2005), que comandou o estado entre 31 de janeiro de 1961 e 31 de janeiro de 1966. A vinda de Goulart à Paraíba não se deu sem que houvesse um forte movimento contrário da parte da Associação dos Proprietários Rurais, exposto por meio de um manifesto intitulado “Um visitante indesejável”. O arrazoado fechava com um apelo: “Não silenciaremos, porém, a nossa reprovação e concitamos a todos os democratas a negarem sua presença às solenidades programadas em honra desse presidente de pelegos”.

O comício, diurno, foi na Lagoa do Parque Solon de Lucena. Em sua longa explanação, inteiramente publicada no jornal Estado de São Paulo do dia seguinte, Goulart falou sobre o desenvolvimento do Nordeste, reafirmando o papel da Sudene, e pregou a extinção dos latifúndios “para que haja uma distribuição mais justa, mais humana e mais racional” da terra. Enfim, defendeu enfaticamente a existência das Ligas Camponesas “porque, se reconhecemos ao patrão, ao industrial, ao comerciante, ao fazendeiro, se reconhecemos a eles o direito de se associarem, o direito de defender os seus interesses, porque negar aos trabalhadores o mesmo direito?”.

Na época, era exatamente por esse direito que lutavam os camponeses: o sindicato. Em sua edição de 1 de agosto, por sinal, o mesmo Estadão, na coluna Notas e Informações (assumida pelo jornal), considera o discurso do presidente como concebido “com certa serenidade e de acordo com o sentir geral da Nação”. No entanto, diz que o de Campina Grande, à noite, que o jornal também publicou na íntegra “leva-nos a retroceder da primeira impressão que tivemos” e que “s. exa. é visivelmente incompatível com os anseios e os verdadeiros interesses da Nação”.

A matéria de cunho editorial do Estadão concluía, assim: “Ou somos uma coisa ou somos outra. Se os homens responsáveis do Brasil teimarem em fechar os olhos ao jogo do Sr. Goulart, tornar-se-ão automaticamente seus cúmplices na tragédia que ele espontaneamente nos prepara”. Como se vê, uma verdadeira exortação à derrubada do presidente. A título de curiosidade, entre os textos publicados pelo jornal paulista no dia seguinte aos pronunciamentos em João Pessoa e em Campina, há o do correspondente do Estado de São Paulo, na Paraíba (cujo nome não é, como ocorre atualmente no jornalismo, dito na matéria), marcado pela falta de imparcialidade, despachado com abertura nos seguintes termos: “JOÃO PESSOA, 30. (DO CORRESPONDENTE) – Até a tarde de sábado, não se tinham, nesta Capital, notícias oficiais sobre a viagem do presidente da República, além das informações do chefe da Casa Militar.

O programa de sua visita era inteiramente desconhecido. O jornal ‘A União’ e a Rádio Tabajara, atualmente dominados por esquerdistas (sic), que trabalham como porta-vozes do presidente das ‘Ligas Camponesas’, divulgaram que o presidente, após sua chegada, às 14 horas, iria à Cidade Baixa ‘para puxar um desfile de 20.000 camponeses’”. O jornal paulista não informou se houve o tal “desfile”.

(A foto que ilustra a matéria é de João Goulart em Vitória do Espírito Santo)