Nas ondas do iê-iê-iê nós tínhamos nossos próprios ídolos em João Pessoa. Em todos os finais de semana, no Astrea, no Cabo Branco, no Clube dos Oficiais, no Independente, no Clube dos Sargentos, nas Voluntárias, na AABB, eles estavam em algum lugar, alcançando os diversos estratos sociais da capital paraibana. Os mais famosos, e pioneiros, foram os irmãos Miranda (Golinha e Floriano), bases de Os Quatro Loucos, onde tocaram, ainda, Alicinha, Vital Farias, Zé Ramalho, Poty Lucena e Dedé.
A turma reproduzia o que tocavam os Beatles, Renato e Seus Blue Caps, The Fevers, Os Incríveis, Leno e Lilian, Roberto Carlos, Rita Pavoni, The Golden Boys, Wanderléia e quem mais fizesse sucesso no eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Londres-New York, e pelo mundo inteiro.
No mesmo nível de Os Quatro Loucos podiam ser inscritos, também, Os Selenitas (me lembro bem de Jarbas Mariz, que segue na banda de Tomzé, em São Paulo), os Tuaregs (sob a liderança de Junior, ainda hoje em atividade), The Gentlemen e Diplomatas. Havia outros, mas a memória me falha. Eram todos muito bons e faziam sucesso além dos limites da Paraíba.
Aquele foi um tempo verdadeiramente mágico da juventude. Apesar das críticas fervorosas que partiam dos mais diversificados horizontes musicais brasileiros, a Jovem Guarda se constituiu num estado de espírito a acompanhar uma onda internacional de renovação de costumes. Em tal movimento quem ditava as regras era a juventude, seja em Tóquio, mas, também, de Praga; de Paris, mas, ainda, de Nova York, Londres, Rio de Janeiro, São Paulo, João Pessoa e de todas as grandes e médias cidades do mundo e do Brasil.
A repressão sexual que, principalmente, atingia as mulheres, perversamente, começava a ser derrubada pelo surgimento da pílula anticoncepcional. Mas, voltando a João Pessoa e àquele momento, de grade força musical. Entre os clubes pessoenses não podia haver festa mais democrática do que as promovidas pelo Clube Astrea, já motivo de uma de nossas crônicas. Por sinal, foi em seu ginásio que pela primeira assistimos Roberto Carlos, diante de uma multidão de jovens absolutamente possuídos de felicidade, em êxtase. Foi no Astrea, da mesma forma, que se apresentaram Os Incríveis e The Feveres, e muitos outros.
Mas não era apenas o iê-iê-iê. A maioria dessas bandas evoluiu junto com a música da juventude no final de 1969 e início da década de 70. O movimento underground mundial e o tropicalismo nacional foram adotados pelas nossas bandas. É nesse tempo que surgem os festivais de música locais, e gente como Vital Farias, Carlos Aranha, Cleodato Porto, Alex Madureira, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Cátia de França, Jarbas Mariz, Luiz Ramalho, Glorinha Gadelha, Marcus Vinícius, José Nêumanne (letrista), Jomar Souto (letrista), Genival Lacerda, e, tempos depois, Pedro Osmar e Chico César se misturam às bandas para compor momentos de extraordinária criatividade na música popular paraibana.
Tendo participado da história desses festivais, até me aventurei pela área, sem grande sucesso, porém! Tive, num desses festivais, uma música, com letra e tudo, defendida por Os Quatro Loucos. Esses festivais eram realizados no Teatro Santa Roza ou no Astrea, com algumas de suas versões já dentro do regime autoritário redimensionado, para pior, pelo AI-5.
A censura comia solta e as letras vinham geralmente muito cortadas dos escaninhos dos censores. Apesar de tudo, assim como aconteceu no eixo Rio-São Paulo, também os nossos festivais acabaram promovendo alguns daqueles para o estrelato nacional da música popular brasileira. Fica, assim, registrado, um pouco, da fantástica e revolucionária onda do iê-iê-iê em terras pessoenses. Foi isso.
Na foto, postada por Zé Ramalho, uma das formações de Os Quatro Loucos, vendo-se da esquerda para a direita, Zé Ramalho, Diágoras e Floriano (em pé), Golinha (sentado).