É sempre uma emoção visitar a Igreja da Misericórdia, no Centro Histórico de João Pessoa. Trata-se, afinal, da construção original, em pé, mais antiga da cidade, erguida em pedra calcárea desde os tempos em que a cidade se chamava Filipéia de Nossa Senhora das Neves, ainda no final dos anos 1500. É uma obra empreendida pelos irmãos da Santa Casa da Misericórdia, que chegaram junto com as ordens dos jesuítas, carmelitas, franciscanos e beneditinos para construção da cidade.
Foram, todos esses, a partir daí, os responsáveis pelas primeiras obras urbanas de vulto na hoje João Pessoa, expressas em igrejas, colégios e conventos. Dessas construções, embora não seja a mais grandiosa, a primeira a ficar pronta foi exatamente a Igreja da Misericórdia, da Santa Casa, que teve ajuda financeira fundamental para sua execução, na pessoa do senhor de engenho Duarte Gomes da Silveira, casado com Fulgência Tavares, filha do primeiro capitão-mor da Capitania da Parahyba, João Tavares.
Em troca, Duarte Gomes, que faleceu em 1644, aqui mesmo, em Filipéia, ganhou o direito de ser sepultado em seu interior, junto com a esposa, a seu tempo, além de ter missa diária rezada em favor de sua alma (o que deve ter sido cumprido, ao menos nos primeiros anos após a morte), conforme o trato. Pois bem, o túmulo de Duarte Gomes da Silveira e dona Fulgência Tavares, numa capela dedicada ao Salvador do Mundo, lateral à nave principal da Igreja da Misericórdia, é, certamente, o mausoléu mais antigo da cidade, devidamente identificável. A Igreja da Misericórdia abre diariamente para orações, reflexões e missas, que são celebradas inclusive nas manhãs de domingo.
(PS: A origem das irmandades da Misericórdia se deu no final do século 15, em Portugal. Em 1498, por iniciativa da Rainha Leonor de Lencastre e com o apoio espiritual de Frei Miguel de Contreiras, foi criada a primeira Santa Casa do mundo, em Lisboa. O objetivo maior era prestar assistência médica às pessoas mais necessitadas – por isso a palavra Misericórdia, que significa “piedade, compaixão e sentimento despertados pela infelicidade de outrem. Do portal da Santa Casa da Misericórdia do Recife.)
A foto é da Capela do Salvador do Mundo, vendo-se, no piso, o mausoléu de Duarte Gomes da Silveira e de sua esposa, dona Fulgência Tavares.