quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

“Mocidade da minha terra!”, discursava Mocidade

1, dezembro, 2024

Sérgio Botelho – Não havia quem não se emocionasse com os discursos proferidos por Mocidade, uma figura singular do memorial pessoense que fez sucesso nas décadas de 1940, 1950, 1960 e 1970. Se dizia nascido como João da Costa e Silva (se descobriu depois que na verdade se chamava João da Silva Costa), tinha vocação para a tribuna, realmente, mas era tido como um dos doidos da cidade.

O problema dessas classificações está em você encontrar com clareza o limite entre loucura e sanidade. “Mocidade da minha terra!…”, era como dava início aos seus pronunciamentos. Contam que ele teria feito o curso de Direito várias vezes, apesar de nunca oficialmente matriculado. A ele são creditadas hilárias narrativas, que transitam entre a verdade e a lenda. Dizem, por exemplo, que no enterro de Ruy Carneiro proferiu um discurso que emocionou os presentes, no Cemitério Senhor da Boa Sentença.

Na saída, elogiado num dos grupos que se movimentavam à procura da rua, respondeu alto: “Vocês não viram nada, discurso eu vou fazer no enterro de José Américo!!!”. Surpreendido com a promessa foi o próprio condenado à futura homenagem, que vinha logo atrás, em outro grupo, e ouviu o que Mocidade disse. Situação! Era protegido do governador João Agripino, de quem até ganhou moradia nos fundos da sua (de JA) residência particular, no Cabo Branco. Da relação há um episódio dos mais repetidos. Num dos dias de protesto estudantil em 1968, fez emocionado discurso em favor dos estudantes, baixando a pua na ditadura e, por lateralidade, no governo estadual.

Lógico que seu protetor mais poderoso logo ficou sabendo. À noite, Agripino aguardou a chegada de Mocidade em casa. “Me diga uma coisa, homem, quem lhe dá proteção?”. “Você, João!”. (A intimidade era grande!). “Quem lhe dá casa e comida?”. “Você, João!”. “E por que você fez um discurso virulento hoje contra mim?”. “Governo é pra sofrer, mesmo, João!”. Kkkkk E foi dormir! Mocidade faleceu em 1981. Registre-se por fim o livro O Anjo Torto, sobre ele, do jornalista Gilvan de Brito, com registros preciosos sobre a vida pessoense de outrora.

Foto de Antônio David.