quinta-feira, 21 de novembro de 2024

O Café Alvear

17, junho, 2024

No dia 21 de maio de 1933, um domingo, às 16 horas, foi inaugurado, no Ponto de Cem Reis, em João Pessoa, o Café Alvear, do picuiense Antônio Muribeca, radicado na capital paraibana. Exatamente um mês depois, nascia, com registro em Alagoa Nova, o cronista-mor da Paraíba, Gonzaga Rodrigues, um dos mais ilustres frequentadores do Alvear, a partir da década de 1950, portanto, desde que chegou a João Pessoa, de vez, para fazer história no jornalismo e na crônica.

Aliás, não apenas frequentador, mas garantidor da perpetuidade do Alvear por meio do seu livro “Café Alvear – Ponto de Encontro Perdido”, onde ele pereniza figuras da vida pessoense daquela época, juntamente com fatos locais, mas também do Brasil e do mundo, ao tempo. Com efeito, a partir daquela intensa década de 1930, até início dos anos 1960 (Muribeca faleceria em 1964), o Café Alvear se transformou num centro vibrante de interação social, de troca de ideias e de disseminação de notícias na progressiva João Pessoa.

Como bem expôs Gonzaga, foi na atmosfera descontraída do Alvear que jornalistas, políticos, intelectuais, empresários e gente comum, mas enfronhada, debateu ao longo do tempo a política e os negócios da Paraíba, do Brasil e do mundo… apresentando soluções, claro! A Segunda Guerra Mundial e seu desenrolar, assim como o Estado Novo, entre as décadas de 1930 e 1940, faziam parte da pungente atmosfera daquelas décadas, absorvida entre xícaras de café e baforadas de cigarros e charutos (falo isso porque lembro, da época de menino, nas décadas de 1950 e começo da de 1960, que era comum ver fumantes de charutos, no Ponto de Cem Reis; cigarro, então, era uma loucura!

Sem esquecer que em João Pessoa eram fabricados tanto um quanto o outro). Cumpre anotar que durante bom tempo, ao menos nas primeiras décadas, o Café Alvear também foi um empório importante, com venda de especiarias como figo, passas, conservas, doces, artigos para presentes e vinhos, tanto nacionais quanto estrangeiros, segundo anúncio de 1935, em A União. E, ainda, bar e restaurante.

Além disso, Muribeca também oferecia serviço de buffet, ao nível de bailes memoráveis. O que mais lembro do Alvear é do cheiro de café torrado, bem cedo da manhã, vindo de um espaço de torrefação da empresa, por um tempo localizado na avenida Miguel Couto, onde, ainda menino, inúmeras vezes fui comprar café, a pedido de minha mãe. Mas o Alvear passou, como tudo tem de passar, como passaram também, no mesmo Ponto de Cem Reis, os cafés Santa Rosa e São Braz, dos quais me servi.

(Nas fotos, a de cima, da época de ouro do Café Alvear, com o prédio do empreendimento em primeiro plano, e a outra desses dias, no mesmo local. O prédio em que funcionou o Alvear, de número 454, segundo a matéria de A União sobre o ato inaugural, em 1933, é o mesmo onde funciona um varejo chinês, hoje, e que também está em primeiro plano, na foto atual)