sábado, 18 de maio de 2024

O filme Menino de Engenho

16, janeiro, 2024

O ano de 1965 marca um acontecimento singular na vida cultural pessoense, que foi a gravação de um filme de ficção, longa-metragem, dirigido por Walter Lima Júnior, que havia sido assistente de direção no lendário Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. A Paraíba não era desconhecida da cinematografia nacional, principalmente por conta de Aruanda, de Linduarte Noronha, um documentário tido e havido como o pontapé inicial do cinema novo, no país.

João Ramiro e Wladimir Carvalho também já haviam filmado Romeiros da Guia, um curta-documentário icônico do nosso cinema. No entanto, era a primeira vez que o cenário paraibano, junto com artistas locais, serviria a um longa a ser exibido no circuito comercial, não só brasileiro, mas internacional. Junto com Walter Lima Junior vieram artistas consagrados nacionalmente para compor o elenco de Menino de Engenho, baseado no romance homônimo do imortal paraibano, José Lins do Rego.

Falo de Anecy Rocha, esposa de Walter Lima Junior e irmã de Glauber, Geraldo Del Rey, que havia trabalhado no premiadíssimo O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, Rodolfo Arena, com vastíssimo trabalho no cinema brasileiro, Margarida Cardoso, do filme Seara Vermelha, Antônio Pitanga, já experiente pelo filme Bahia de Todos os Santos, em que também trabalhou outra atriz que veio com Walter Lima: Maria Lúcia Dahl.

Da Paraíba, a colheita foi feita no teatro e nas artes em geral, a exemplo de Balduíno Léllis, Carlos Henrique, Cilaio Ribeiro, Clício Blayner, Elísio Jorge, Elpídio Navarro, Elzo Franca, Jurandir Souza, Lindaura Pedrosa, Lucy Camelo, Maria da Conceição, Maria Raquel, Nautília Mendonça, Wilson Maux e, já marcando presença, a gloriosa Zezita Matos. Nosso entusiasmo jovem, porém, era com crianças paraibanas que participavam do filme, fato que se espalhou pelos colégios de João Pessoa: estavam em papéis destacados na película, o cajazeirense Sávio Rolim e a pessoense Chola (Fátima) Miranda Henriques.

É preciso explicar que o cinema, naquela década de 60, atravessava uma fase de ouro. Dessa forma, o filme paraibano, especialmente para a criançada, era o máximo, e os nomes de Sávio e Chola (pronuncia-se Chôla) passaram rapidamente à constelação do nosso olimpo particular. O filme foi um sucesso, basta ver sua trajetória: Prêmio IV Centenário do Rio de Janeiro para melhor filme; Melhor Filme nos festivais de Teresópolis e Juiz de Fora; Prêmio Humberto Mauro; Menção Honrosa no I Festival de Brasília; representante oficial do Brasil no Festival de Karlovy Vary (Tchecoslováquia) e Melhor Filme no Festival de Santarém (Portugal).

A parte triste dessa história fica com a vida de Sávio Rolim, depois do bom desempenho no filme, inclusive com reconhecimento nacional. Tragado pelos redemoinhos da existência, o pequeno artista cajazeirense virou, com algum tempo, morador de rua, indo, um dia, parar numa clínica psiquiátrica para tratar dependência química. Uma tragédia assistida, ao vivo, com seu desenrolar pelas ruas de João Pessoa, e retratada, em documentário, pelo cineasta Lúcio Vilar, professor da UFPB, no documentário “O Menino e a Bagaceira”, que ganhou o prêmio de melhor vídeo nordestino em uma das versões do Festival de Cinema de Pernambuco.

Por mais que procurasse saber, até o fechamento desta crônica não consegui qualquer informação sobre o paradeiro de Sávio. Nem com o pessoal de Cajazeiras. Diferente disso, apesar de também não ter prosseguido com a carreira de atriz, Chola seguiu em frente, cercada pela família e pelos amigos. Atualmente, mora em Lisboa, é empresária na área do turismo, e vem a João Pessoa regularmente, segundo me informou a querida escritora Ana Adelaide Peixoto Tavares, colega de colégio (Lourdinas) e muito amiga da protagonista de Menino de Engenh…