O saudoso radialista Pascoal Carrilho repetia à exaustão: “Guaraná Sanhauá, o guaraná”. Era um de seus comerciais famosos. Estava se referindo a um refrigerante produzido, durante décadas, em João Pessoa. Ontem, falamos do Dore, ambos lembrados com carinho, na cidade. O guaraná a que nos referimos, hoje, homenageando o berço da atual cidade de João Pessoa, era fabricado pela Bebidas Sanhauá Ltda., com endereço bem perto do rio celebrado pela marca.
O projeto industrial, instalado na década de 1920, era mais amplo, com o nome de Indústria Vinícola Sanhauá, iniciativa do industrial Lindolfo Alves de Carvalho, que durante bom tempo residiu nas imediações e chegou a presidir o Esquadrilha V, movimentado clube social pessoense, na época, também com sede nas proximidades. O endereço é o das esquinas da rua da República, com a avenida Três de Maio e a rua Professora Analice Caldas, no Varadouro.
Produzia, além do famoso guaraná, licores, sucos de frutas, água tônica e gasosa, vinho com quinina, e até um certo tipo de conhaque. Na condição de vizinhas, de frente e ao lado, havia as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (onde se produzia óleo de mamona e de algodão), e a Prensa Abílio Dantas (prensagem de algodão). Tudo isso surgiu em um período de crescimento econômico e modernização na cidade de Parahyba (atual João Pessoa), coincidente com o sucesso da cultura do algodão e com a chegada do paraibano Epitácio Pessoa à Presidência da República (1919-1922).
Com o passar do tempo, a Vinícola Sanhauá enfrentou dificuldades econômicas e logísticas, resultando em seu encerramento na década de 1990. Atualmente, o edifício que abrigava a Indústria Vinícola Sanhauá é considerado um patrimônio histórico, já que o prédio é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico da Paraíba (Iphaep) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e faz parte do perímetro urbano de preservação rigorosa da cidade.
Leio na imprensa que “o Governo do Estado vai construir 24 apartamentos no Condomínio Sanhauá, na antiga vinícola Sanhauá, onde também haverá um espaço comercial e um memorial do patrimônio industrial da Paraíba”, dentro de um projeto mais amplo que visa a preservação do Centro Histórico de João Pessoa. Importante anotar que a parte da rua da República mais próxima do prédio é majoritariamente composta de residências.
O mesmo ocorre com as ruas laterais Professora Analice Caldas e 3 de Maio. Bem perto funcionam o Terminal de Integração e a Estação Rodoviária de João Pessoa. Portanto, se trata de um ponto do Centro Histórico bem amparado em termos urbanos, com gente vivendo regularmente na área. Item importante.
Nas imagens, foto atual do prédio, tampa e rótulo da garrafa do guaraná Sanhauá.