Para contar a história de hoje tenho de começar por matéria do jornal A União de 16 de março de 1950, anunciando, em manchete de primeira página, “Um novo bairro elegante e aprazível”. No primeiro subtítulo, “Será construído ainda este ano, nesta capital, por iniciativa da Caixa Econômica Federal da Paraíba”. Em um segundo subtítulo, mais detalhes: “Situado num dos pontos mais saudáveis de João Pessoa e com uma visão panorâmica verdadeiramente fascinante, o Jardim Miramar será um dos mais belos e confortáveis conjuntos residenciais desta Capital, quiçá do Nordeste”.
Mas tinha mais um subtítulo: “Planejado de acordo com a moderna técnica do urbanismo – Uma realização que vem solucionar o angustioso problema de moradias na capital paraibana”. A aposta era alta, e deu certo em parte, menos na solução do problema de moradias em João Pessoa, claro! O novo bairro surgia no embalo da pavimentação da Avenida Epitácio Pessoa, no governo José Américo, em um terreno amplo e efetivamente com vista privilegiada para o Oceano Atlântico. Uma ocupação urbana planejada pelos engenheiros Serafim Rodrigues Martinez e Targino Pereira da Costa, e executada por um famoso escritório de engenharia da época, o Planos de Urbanismo Plaurba Ltda, sob a orientação do engenheiro Lauro Pedrosa.
A notícia trazia mais informações auspiciosas: “… segundo estamos seguramente informados, um grupo de paraibanos ilustres e de boa vontade irá dar preferência a esse bairro para a construção de um importante clube social e desportivo, capaz de proporcionar vantagens idênticas às oferecidas aos seus associados pelos mais notáveis clubes do Rio, São Paulo, Ceará etc.” O clube, todos sabem, veio a ser o Cabo Branco, que habitava o bairro de Jaguaribe, na época. Já prevista na planta, constava a principal rua do bairro, a Tito Silva, homenageando um dos mais festejados industriais, apesar de não tão gigante, do final do século XIX para o início do século XX, fabricante de vinhos memoráveis feitos de caju.
E em sua margem, a pracinha com o mesmo nome da rua. A mesma Tito Silva que viria a servir de trajeto ao bonde que, vindo do Ponto de Cem Reis, passando pela Avenida Tambiá, seguindo por Torre, Expedicionários e Imbiribeira (hoje, Tambauzinho), cruzava a Epitácio Pessoa, justamente depois de trilhar parte daquela importante rua do Miramar, e descia, pela atual Rui Carneiro, até o Elite Bar, em Tambaú.
O resto da história é muito atual, ou seja: o Cabo Branco promoveu históricos gritos de carnaval Vermelho e Branco, no bairro; o trio formado por Maria das Vitórias, Bob Záccara e Mestre Fuba inventaram um tal de Muriçocas do Miramar, que acabou virando um incomensurável bloco de arrasto calculado em centenas de milhares de brincantes, transformando a Praça Tito Silva em concentração para a descida até Tambaú; e o movimento acabou tornando irrelevante o nome original da praça, que virou das Muriçocas, permanecendo, denominação consagrada nos dias de hoje.
Afinal, historicamente o Miramar (que nasceu e cresceu ao mesmo tempo que eu) e o inseto chamado muriçoca são contendores figadais desde o início dos tempos do bairro, tão perto do paul do rio Jaguaribe. Conheço bem. Morei lá! Viva o Miramar! Viva a Praça das Muriçocas! Viva as Muriçocas do Miramar! Tá chegando a hora! (A foto do bloco é de uma edição de 2017, de A União, a outra, a da Praça das Muriçocas, foi feita por mim mesmo, nestes dias)