quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Órris Soares

5, dezembro, 2024

Sérgio Botelho – Em mais de uma ocasião, o saudoso humorista Jô Soares, nascido José Eugênio Soares, e que viveu entre 1938 e 2022, falou sobre sua ancestralidade paraibana. Com efeito, Jô tinha avô paraibano, e sobretudo um tio-avô de forte proeminência intelectual na João Pessoa da primeira metade do Século XX, chamado Órris Eugenio Soares, fundador do desaparecido jornal O Norte. Nascido em 14 de outubro de 1884, na então cidade da Parahyba (como era conhecida João Pessoa na época), ele se destacou como escritor, jornalista, dramaturgo e filósofo. Graduou-se em Direito, como a maioria dos intelectuais de sua época, na Faculdade de Direito do Recife. Seu ensaio,

“Elogio de Augusto dos Anjos” (1919), de quem era amigo de infância, foi importantíssimo para o reconhecimento da poesia augustiniana. Órris tinha muito prestígio intelectual no Rio de Janeiro, onde um dia foi morar, permanecendo até a sua morte, em 11 de fevereiro de 1964. Sua influência na Paraíba foi notável, principalmente pela atuação como jornalista e escritor. (Embora tenha exercido forte papel na política, durante breve tempo, no exercício do elevado cargo de secretário-geral, durante o governo (1916-1920) do tio materno, Camilo de Holanda.

Em 1920, uma peça sua, Rogério, era apresentada ao público paraibano, com grande receptividade da crítica. Órris contribuiu ativamente para o desenvolvimento intelectual e cultural da Paraíba, publicando obras e artigos que abordavam temas diversos, desde crítica literária, peças de teatro e filosofia, além de questões sociais e políticas. Uma de suas maiores contribuições poderia ter sido a dos 10 volumes de um Dicionário de Filosofia encomendado pelo Instituto Nacional do Livro, cujo primeiro foi publicado em 1952, e não passou do terceiro, para desgosto eterno do escritor, e revolta de todos os que acompanharam o episódio.

Cruel é o fato de que ele havia recusado ofertas privadas para publicação do dicionário filosófico, por conta do compromisso com o Instituto Nacional do Livro, segundo narrou em suas memórias o festejado poeta modernista carioca, Augusto Frederico Schimidt, amigo de Soares.