A tradicional Festa das Neves, com história que remonta às décadas iniciais da Parahyba, passou a contar, no Século XX, com a presença de pavilhões beneficentes a reunir a elite da cidade e de suas vizinhas geográficas. Tais iniciativas desempenhavam papel emblemático, servindo não apenas como locais de celebração e reunião, mas também na função de centros de atividades caritativas.
Um deles, de enorme sucesso em grande parte dos tempos de maior brilho da Festa das Neves, foi o Pavilhão do Orfanato, que não era outro senão o Dom Ulrico, na João Machado – que já não existe mais, enquanto instituição -, sobre o qual até já escrevemos uma de nossas crônicas sobre estas histórias da capital paraibana que venho contando. Nesses pavilhões, comandavam os trabalhos pessoas mais proeminentes da “sociedade”, entendida como a elite da capital. Eram as senhoras “fulano de tal”, “doutor sicrano”, “desembargador beltrano”, ou viúva “zutano”, a maioria assim, sem nome próprio a ser divulgado, as que organizavam e se responsabilizavam pelos quitutes cercados de toques familiares especiais.
“Para os resultados satisfatórios do movimento de receita tem concorrido muito as generosas ofertas de pratos de finíssimas iguarias para o buffet do Pavilhão”, noticiava o jornal A União de 3 de agosto de 1937. A data é distante, mas a história desses pavilhões beneficentes, normalmente armados na General Osório, de frente para a Conselheiro Henriques, entre o Mosteiro de São Bento e a Catedral, persistiram, dessa forma importantes, até a década de 1960. (Em certo tempo, minha lembrança conduz à década de 1980, em função de eventual disputa política, houve pavilhões de governo e prefeitura de acentuada concorrência).
As garçonetes do Pavilhão do Orfanato eram “senhorinhas escolhidas entre a fina flor de nossa melhor sociedade”, conforme enfatiza a matéria de A União, já referida, e os pavilhões costumavam funcionar até mais de meia-noite. A Festa das Neves foi negócio chic, movimentando o comércio e a alta moda local, prezados leitores! Era a grande e mais esperada data da cidade. Mais do que as provocadas por Papai Noel, São João, São Pedro e Momo. Hoje em dia, está muito longe disso!
(A foto tirada em um pavilhão da Festa das Neves é dos arquivos de A União)