sábado, 7 de setembro de 2024

PARAHYBA DO NORTE. Uma rua central com dois nomes oficiais em João Pessoa

21, junho, 2024

Há uma rua importante, desde sempre, na urbe pessoense, que homenageia duas figuras de prestígio na história paraibana e brasileira. A via é uma das que ligam a rua Visconde de Pelotas ao Parque Solon de Lucena, abrigando endereços relevantes da cidade, a exemplo os do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e da gerência do Instituto Nacional de Seguridade Social, além de ostentar um intenso tráfego de veículos e de gente.

Agora vem a curiosidade: a rua tem oficialmente dois nomes, que homenageiam dois paraibanos ilustres, com sucesso para além do estado, e de origens social e étnica absolutamente diversas. Falo da rua Eliseu César, mas também Barão do Abiahy, local de movimentado comércio de varejo. O primeiro, nascido Eliseu Elias César, sem sobrenome ilustre, não miserável, mas pobre, preto, poeta, jornalista, político, advogado, abolicionista e republicano, tendo até ocupado, na condição de parlamentar, a Assembleia Legislativa do Estado do Pará, um cidadão que enfrentou duras batalhas para se firmar entre os indivíduos de primeira grandeza ao tempo do Brasil monárquico e escravocrata, um período cujos reflexos negativos permanecem até os dias de hoje.

O outro, nascido Silvino Elvídio Carneiro da Cunha, branco, dono de escravos, descendente de família importante, monarquista, rico, possuidor de título nobiliárquico, e político influente em sua época, tendo governado não somente a Província da Paraíba, mas também as do Rio Grande do Norte, Alagoas e Maranhão. Suas existências até se cruzaram no aspecto temporal: quando Eliseu César nasceu, na Cidade da Parahyba (atual João Pessoa), em 21 de julho de 1871, Silvino Elvídio, o barão, natural de Alhandra, mas residente na mesma Cidade da Parahyba, presidia Alagoas.

Por outro lado, quando foi abolida a escravidão, em 13 de maio de 1888, e instalada a República, em 15 de novembro de 1889, Eliseu, entre os 17 e os 18 anos de idade, já publicava festejados poemas em jornais paraibanos, enquanto Elvídio, entre os 76 e os 77 anos, ainda exercia influência no estado. A inauguração da República flagrou o jovem Eliseu comemorando e o barão rapidamente aderindo ao novo regime. O fato é que ambos denominam a mesma via e os endereçamentos postais que usem uma ou a outra denominação chegam ao seu destino.

Na tentativa de resolver o mistério, segue uma brevíssima história. Quando morámos, eu e a família, na rua Santo Elias, no final da década de 1960, tínhamos amigos que residiam na artéria objeto de nosso memorial de hoje, já bem perto da Lagoa. O endereço da residência deles era Eliseu César. Na época, o trecho entre a rua Treze de Maio e o parque, justamente onde morava a família amiga, era bem mais estreito do que o da Barão do Abiahy de sempre, entre a Visconde de Pelotas e a Treze de Maio,. Assim, pelo que parece o dito trecho, da Treze de Maio ao parque, se chamava Eliseu César. Certamente, após alargado o pedaço e alinhados os meios-fios restou o problema, ao que parece, resolvido de forma salomônica. PS: O IHGP e o INSS mantêm endereços oficiais como Barão do Abiahy.

Nas imagens, fotos nossas da rua entre a Visconde de Pelotas e o Parque Solon de Lucena. A primeira, com direito a placa na esquina com a Visconde de Pelotas, sinalizando Barão do Abiahy, a segunda, da mesma artéria, com placa, na esquina da Treze de Maio, sinalizando Eliseu César. Na terceira imagem, o Google Street View portando as duas denominações para identificar a via)