quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Potiguaras, Tabajaras, portugueses e o 5 de agosto

5, agosto, 2024

Minha intenção, no presente texto, é questionar todo tipo de juízo de valor sobre a relação entre os índios Tabajaras e Potiguaras, na conquista da Paraíba pelos colonizadores. Nem da parte dos que punem pela denominação da Paraíba como Terra dos Tabajaras (que não contempla a verdade histórica, em sua abrangência) nem pelos que possivelmente a abominem. Os fatos que produziram tais relações, até o ato da conquista, pertencem a circunstâncias históricas somente possíveis devido ao poder dos mais fortemente armados, no caso, os portugueses, que guerreavam à base da pólvora, enquanto os nativos se defendiam com flechas, tacapes e lanças.

Nessa conformidade, após décadas de luta, os potiguaras tiveram de se render. No dia em que isso aconteceu, 5 de agosto de 1585, foi criada a Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa. A vitória portuguesa, apesar da força das armas, somente foi alcançada, naquele instante (certamente, com o tempo iriam conseguir), por conta da aliança que estabeleceram com os índios Tabajaras.

Diferentemente dos Potiguaras, que viviam no litoral nordestino, entre o sul do Maranhão e o norte de Pernambuco, por séculos, os Tabajaras, vieram de terras no vale do Rio São Francisco. A migração aconteceu na segunda metade do Século XVI, já bem perto da vitória dos colonizadores, após longa e sangrenta guerra que mantiveram contra os portugueses, lá na Bahia, e uma caminhada, por anos, cumprindo penoso processo migratório. De comum acordo com os chefes potiguaras, os Tabajaras ocuparam áreas que hoje pertencem aos municípios de Conde e Alhandra.

Nos primeiros anos, reinou a maior harmonia entre os dois agrupamentos indígenas, envolvendo inclusive aliança na luta contra os portugueses. Acontece que depois de uma intriga que se estabeleceu entre os dois povos nativos, potencializada pelo comando português, na luta, os Tabajaras mudaram de lado, e passaram a pelejar ao lado dos colonizadores.

A mudança na composição das alianças foi fatal para a capacidade de luta dos Potiguaras, que tiveram de se render aos europeus, dando origem oficial à Paraíba. A partir desse breve relato, compilado pelos historiadores, é possível perceber que o litoral brasileiro, hoje usufruído pelos paraibanos, foi, ao longo dos séculos anteriores à chegada dos europeus, propriedade absoluta dos Potiguaras (onde ainda mantêm os únicos territórios próprios, na forma de aldeias em Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto).

Ter consciência dessas configurações históricas não deve significar que devamos distinguir o povo Tabajara como invasor ou traidor. Primeiro que, ao chegarem por aqui, eles asseguram sua permanência com os originários potiguaras, conforme já comentamos. O que prejudicou as relações entre Tabajaras e Potiguaras foi, como já disse, a intriga que se forjou entre eles, gerando um forte receio de traição, em meio aos Tabajaras, com relação aos novos amigos Potiguaras.

Em troca da colaboração com os portugueses, garantiram terras no Litoral Sul, hoje, quase perdidas pelos descendentes, a lutarem pelos compromissos firmados com os brancos vencedores há mais de 400 anos. Um pouco mais beneficiados foram os Potiguaras que, após séculos de muita luta, depois da derrota e do aldeamento, com terríveis histórias de massacres, vêm conseguindo se manter em aldeias dos municípios do Litoral Norte do estado.

(A foto, de indígenas Potiguaras, atualmente, é de A União, com crédito a Roberto Guedes)