Até o ano de 1935, a paisagem da cidade, entre o atual Ponto de Cem Reis e a Praça João Pessoa, era dominada por uma velha e marcante igreja administrada pela Irmandade dos Pretos e Pardos, datada dos anos 1600, e dedicada à Nossa Senhora das Mercês. Fisicamente, se situava entre os prédios que hoje servem à Assembleia Legislativa e ao Banco do Brasil. Com a derrubada da velha igreja, justificada (com fortes críticas) pela necessidade de melhoramentos na conformação urbana local, a área se consolidou como Praça 1817, deixando de ser o Largo das Mercês.
O nome homenageia a Revolução de 1817, um movimento insurrecional de caráter republicano e separatista, com relação ao domínio português. Com epicentro em Pernambuco, a sublevação armada teve importantes desdobramentos na Paraíba, além de no Ceará, no Rio Grande do Norte e em Alagoas. A resposta da Coroa portuguesa foi brutal, com a revolta sendo sufocada em de maio de 1817, após pouco mais de dois meses de iniciada.
Em Pernambuco, os líderes revolucionários foram presos e executados, enquanto outros foram exilados. Na Paraíba, muitos dos envolvidos também acabaram presos e mortos, a exemplo de José Peregrino de Carvalho, Amaro Gomes Coutinho, Francisco José da Silveira, padre Antônio Pereira de Albuquerque e Inácio Leopoldo de Albuquerque Maranhão, que tiveram partes dos seus corpos expostos em prédios da capital paraibana.
Embora tenha sido derrotada, a Revolução de 1817 se constituiu em marco na luta pela independência do Brasil e pela implantação de um regime republicano. Dos tempos das Mercês, resta, no lado da Visconde de Pelotas, o prédio (em ruínas) que abrigou, sequencialmente, o Teatro Santa Cruz e a Igreja Presbiteriana, sobre o qual já falamos outras vezes.
Volto a defender o que disse outro dia: seria muito importante, para a preservação de nossa memória, a restauração do referido prédio, e seu uso como local de memória da Revolução de 1817, um movimento de tanto significado para a história da Paraíba, e largamente desconhecido entre nós.
Nas imagens, o antigo Largo das Mercês e a Praça 1817, hoje.