Não que fosse exatamente uma vida de sombra e água fresca. Entre 1983 e 1986 o criador visual Régis Soares, nascido em 1960, ganhava a vida por meio de sua arte, para quem precisasse dela (cartazes, faixas, placas), e de charges que publicava profissionalmente, já, em jornais da capital. Vivia uma vida aperreada, de pobre, ganhando pouco, com filhos para criar, mas sem sobressaltos.
Mal sabia ele que o destino havia lhe reservado alturas mais elevadas… e mais agitadas. Sem querer, querendo, em 1986, resolveu protestar contra um buraco na rua, bem em frente ao seu laborioso e humilde ateliê, a lhe infernizar a existência. O inferno vinha da água que não raramente preenchia aquela cavidade, que virou cratera, a espirrar a água ajuntada em cima do seu trabalho artístico, e de quem estivesse passando na calçada, todas as vezes que um ônibus ou carro, numa rua movimentadíssima, afundava seus pneus na referida cavidade.
Nem os vizinhos nem os donos de carros nem os motoristas de ônibus gostavam daquilo. Todos sofriam com o problema. A única arma que Régis tinha para o protesto era sua capacidade de chargista. Criou uma charge, e tascou: “Assim não voto”. E a expôs, devidamente aparatada, dentro do buraco. Foi um sucesso tão grande que não faltaram autoridades a lhe fazer ameaças veladas e explícitas. O resultado é que na sequência das reações ameaçadoras veio a solução oficial, pois o buraco foi tapado, para alegria geral dos que ali viviam e dos que por ali passavam.
Falo, desculpem o atraso na informação, da rua Etelvina Macedo de Mendonça, no bairro da Torre, originalmente uma plácida via praticamente restrita a pessoas do bairro, mas que se transformou numa grande loucura desde o momento que virou passagem obrigatória para carros e ônibus e motos que transitavam da zona sul da cidade para os bairros centrais da urbe pessoense, deixando a Pedro II como mão única no sentido contrário, até a parte duplicada da velha Estrada dos Macacos.
O sucesso, após a resolução do problema do buraco, veio na forma de aplausos e hurras que recebia dos passageiros de ônibus, dos motoristas e caronas, dos automóveis, dos motoqueiros e ciclistas, e da gente a pé, mesmo, ao passarem em frente ao seu ateliê. O resultado é que nunca mais parou de expor suas charges críticas no local, porque o povo não deixou. Virou artista formador de opinião, na categoria dos defensores dos fracos e dos oprimidos em geral.
Tudo o que disse até aqui é apenas um breve adiantamento de toda a história do festejado caricaturista, chargista e cartunista Régis que vou contar em livro, a convite dele – um convite que me deixou orgulhoso pra danado -, e que a gente pretende lançar mais ou menos na metade do mês de maio, quando o dito cujo vai inaugurar uma reforma, sem perder a essência, de seu histórico local de trabalho, na tal rua Etelvina Macedo de Mendonça, precisamente no nº 265, que, mais antigamente, era o endereço em que seu pai ganhava o pão de cada dia com uma pequena, mas concorrida bodega. Aliás, foi na bodega, ainda menino, que teve sua arte descoberta por gente da área, com nome e sobrenome, que entendia bem do riscado. Né pessoense demais e muito bacana essa história?