Nos meus tempos de criança e pré-adolescente, no Centro de João Pessoa, fomos vizinhos do doutor Heronides Alves Coelho, psiquiatra nascido em Timbaúba-PE e formado na Faculdade de Medicina de Pernambuco (mas que escolheu João Pessoa para exercer sua vida profissional), de sua esposa, dona Lourdes, e dos seus filhos. O fato de me referir à essa família, cujos filhos são todos meus amigos de sempre, deve-se ao meu contato de jovem curioso com uma revista, sob a responsabilidade do referido médico, chamada Vida & Cultura.
Apesar dos artigos da publicação serem escritos em linguagem culta e em cima de temas profundos e, outras vezes, bastante técnicos, quando ia à casa dele, levado pelos meus amigos filhos do editor, essas revistas, amontoadas para distribuição, me encantavam. Não que apresentassem feição gráfica muito rebuscada, assim como as revistas de hoje, nem mesmo cheias de ilustrações em suas páginas internas. Mas me atraiam e, não raras vezes, me pegava lendo, com grande interesse.
E, então, ficaram na minha memória. Hoje sei melhor a respeito. Vida & Cultura abordava assuntos que iam da ciência, território do editor, transitando pela literatura, pela música e pela poesia. Era, portanto, uma publicação científico-cultural importante, na época. A revista, segundo me esclarece um dos filhos de doutor Heronides e dona Lourdes, José Carlos Alves Coelho, a quem recorri para adjutórios à memória, era editada pela Sociedade Cultural Luso-Paraibana de Estudos e Pesquisas, fundada por ele mesmo, o editor da revista.
Como uma coisa puxa a outra, fui pesquisar, e o nome da Sociedade me levou a outra descoberta importante, que mostra a inserção definitiva do doutor Heronides entre os pessoenses considerados. Foi ele o fundador da cadeira 18 do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, que tem como patrono o ex-presidente da Província da Paraíba, Beaurepaire Rohan, e, na condição de atual ocupante, a professora Glauce Burity.
Da revista Vida & Cultura participavam, por meio de artigos, figuras credenciadas nas letras, na ciência e na cultura em geral, não apenas do país, mas também de Portugal. Doutor Heronides foi, durante a vida, um grande estimulador das melhorias das relações entre Brasil e Portugal, envolvendo a Paraíba e a publicação nesse processo. Em função do propósito, é autor de um artigo, publicado na revista Vida & Cultura (segundo a biografia com que o distingue o IHGP), intitulado “Maior Aproximação entre Portugal e Paraíba”, datado de 1961, o que bem revela seus interesses científicos e diplomáticos.
Nossos tempos contemporâneos, tão favoráveis a publicações desse tipo, contrastam com aqueles em que surgiu a revista Vida & Cultura, o que enaltece o pioneirismo e a dedicação do doutor Heronides Alves Coelho, que chegou a proferir, em 1962, palestra na vetusta Sociedade de Ciências de Lisboa, conforme também nos faz lembrar a biografia patrocinada pelo IHGP. Por conta disso é que inscrevo a revista Vida & Cultura entre essas histórias da Parahyba do Norte que venho postando no Facebook, no rumo de um novo livro.
(Foto: Capa da revista nº 25, Ano VI, de 1963, anunciando os seguintes artigos: sobre a “Concepção moral do cangaceiro nordestino”; sobre o professor português “Egas Moniz”, médico, neurologista e escritor, falecido em 1955; sobre a “Irmã Maria Josefa do Santíssimo Sacramento”, fundadora da Congregação das Irmãs Hospitalares do Sagrado Coração de Jesus; sobre o “diagnóstico da tuberculose”; sobre “Conselho Regional de Farmácia”; sobre as relações “Portugal-Brasil”; sobre a “Tomada de Goa”, quando o exército indiano acabou com o domínio português, de 451, sobre Goa, fato ocorrido em 1961; e outros)