terça-feira, 19 de agosto de 2025

Virgínius Figueiredo da Gama e Melo

1, agosto, 2025

Há 50 anos, portanto, em 1 de agosto de 1975, os paraibanos tomavam conhecimento da morte de uma figura exponencial da vida intelectual pessoense, campinense e recifense (na condição de escritor, professor, teatrólogo e crítico literário), batizado com o nome de Virgínius Figueiredo da Gama e Melo.

Nasceu, sem qualquer tipo de questionamento biográfico, na cidade da Parahyba, atual João Pessoa. Contudo, sobre a data há controvérsia. Todos os seus documentos apontam para o dia 19 de outubro de 1922. Não era o que dizia ele, já que defendia 1923, como data real, embora no mesmo 19 de outubro. Familiares, especialmente suas tias Gama e Melo, que o criaram (perdeu os pais ainda criança), contavam que ele teve a data recuada no tempo (isso acontecia muito), para efeito de emancipações antecipadas.

Embora vivesse mais com suas tias paternas (seu pai era Pedro Celso da Gama e Melo) pessoenses, no bairro do Róger, conviveu muito estreitamente com os Figueiredo, de sua mãe, em Campina Grande, o que lhe permitiu guardar, para toda a vida, fortes referências de vida da cidade Rainha da Borborema. (Virgínius era sobrinho do ex-interventor da Paraíba, entre 1935 e 1940, o campinense Argemiro de Figueiredo, irmão de sua mãe Severina Figueiredo da Gama e Melo).

Em 1946, alcançou o título de advogado na tradicional Faculdade de Direito do Recife. Então, acabou dando início às lides jornalísticas na capital pernambucana, cidade com a qual manteve estreita relação por toda a vida. No início da década de 1960, passou a residir definitivamente em João Pessoa, depois de assumir a cadeira de Teoria da Literatura, no curso de Letras da Universidade Federal da Paraíba.

Tenho na memória momentos notáveis de Virgínius da Gama e Melo, como ficou mais oficialmente conhecido. Um deles, em solenidade ocorrida no auditório da antiga Reitoria da UFPB, presidida pelo então reitor Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega, com a presença de elevada autoridade educacional, de Brasília, quando, ele (Virgínius), que estava compondo a Mesa, não parava de se dirigir, em elevados decibéis, ao seu vizinho, com aquela sua voz alta, áspera e impaciente, para deleite geral. Ele proclamava ter um certo espírito “marginal e rebelde”, o que lhe granjeava admiração em meio aos universitários.

Outros momentos indeléveis (que são muitos), têm como cenário a antiga e saudosa Churrascaria Bambu, onde sempre estava cercado de jornalistas, intelectuais, alunos e boêmios. Sua mesa, muito disputada, já que ele não deixava ninguém pagar a conta, geralmente era uma das que ficavam na entrada da Bambu. (Penso que se fossem gravadas as conversas que giravam em torno de sua figura nas noites de boemia, que foram tantas, teríamos muitos e muitos volumes de livros, como resultado).

Virgínius deixou, em vida, como obras principais, as seguintes: Antagonismo e Paisagem, Caxias, O Alexandrino Olavo Bilac, Atualidade de Epitácio, A Modelação, Os Seres, Tempo de Vingança, e a A Vítima Geral (1975). Após sua morte, foram publicadas O Romance Nordestino & outros ensaios, Estudos Críticos I (Zé Américo, Freyre, Zé Lins e Graciliano) e Estudos Críticos II (Cony, Pompéia, Figueiredo, Proença, Zé Condé, Moacir C. Lopes e Montello).

No Pôr do Sol Literário, da Academia Paraibana de Letras, nesta quinta-feira, 30, a professora, escritora e acadêmica Neide Medeiros Santos, trouxe à luz uma conferência de Virgínius, realizada no ano de 1974, em Campina Grande, que ela descobriu nos arquivos da Fundação Casa de José Américo (FCJA), contendo um breve, porém denso, levantamento histórico da ex-Vila Nova da Rainha, que ela transformou em preciosa plaquete.

Falar nisso, hoje a FCJA, que fica no Cabo Branco, em prédio vizinho ao edifício Marques de Almeida, realizará uma “Tertúlia com o Menestrel” (aproveitando o afetivo apelido de Virgínius), a partir de 9 horas da manhã, com a participação da própria Neide Medeiros Santos, e mais Hildeberto Barbosa Filho, João de Lima Gomes e Ana Isabel de Souza Leão Andrade, para significar os 50 anos da morte de Virgínius.

O evento, do tipo imperdível, para quem aprecia a memória intelectual da Paraíba, será coordenado pela professora e historiadora Lúcia Guerra, dos quadros da UFPB e da própria Fundação.
Mais não digo, sobre Virgínius, porque tenho como meta, nessas crônicas memoriais, escrever pouco para garantir leitura, nesses tempos de pressa para tudo.


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