quarta-feira, 8 de maio de 2024

Zico, Júnior e os cálculos

27, janeiro, 2023

Se o querido leitor está pensando que vou falar de cálculo de cobrança de falta, de passe (recuso-me a chamar “assistência”!) ou de gol, está muito enganado. Refiro-me a cálculo monetário mesmo.

Conta-nos Walter Clark, sem dúvida o maior profissional de televisão que o Brasil já teve, nas memórias dele, um livro de leitura indispensável, o fabuloso “O Campeão de Audiência” (Editora Best Seller, pp. 357/358), no capítulo em que aborda a época em que foi vice-presidente de futebol do Flamengo:

“Quanto aos jogadores do Flamengo. Presenciei a sua enorme competência em ganhar dinheiro pelos meios legais, na hora da renovação dos contratos. Você ama os jogadores como esportista, mas tem de resguardar o interesse do clube nos contratos e se transforma, compulsoriamente, em antagonista dos seus ídolos.

No campeonato carioca de 1978, eu descobri que os jogadores de futebol podiam até não marcar bem os adversários em campo, mas jamais marcavam bobeira quando o assunto era dinheiro. Quando chegamos na reta final, o Flamengo já pintando como campeão, os jogadores nos procuraram para negociar os prêmios. Eu e o Marco Aurélio, que era administrador de empresas de primeiro time, negociador espertíssimo, nos reunimos com Eduardo Mota, assistente do departamento de futebol e professor de matemática, do colégio Santo Inácio, para estabelecer nossa estratégia de negociação.

Nós três nos achávamos os donos da bola: Marco Aurélio, porque já tinha feito e acontecido; Eduardo porque sabia de matemática; e eu, porque já tinha negociado com Chico Anísio, Chacrinha, grandes feras da TV. Achávamos que ia ser fácil levar os caras na conversa. Mas já na primeira reunião com Cantarelli, Carpegianni e Zico, o Eduardo começou a se enrolar nos cálculos e Zico deu uma calculadora para ele. Imagine a nossa cara! O dirigente era o bom de matemática, mas quem estava equipado para os cálculos era o jogador…

Para encurtar a história: eles eram muito mais espertos que nós. No clímax da negociação, ainda aparece o Júnior, que ninguém sabia, mas era o verdadeiro craque dos negócios. Ele veio inteiramente em forma e nos deu um baile de dar dó. Olé em cima de olé. No final, fechamos um acordo de gratificação pela vitória no campeonato que era uma beleza – para eles. Eu tive até que pôr dinheiro do meu bolso para inteirar a quantia combinada. E, por quebra, nós, os três patetas, entramos na roda…