sábado, 18 de maio de 2024

A Barragem do Sanhauá, em Bayeux

8, abril, 2024

Em 17 de abril de 1954, o ministro José Américo, titular da pasta da Viação, no segundo governo Getúlio Vargas, autorizou o planejamento da construção de uma barragem no rio Sanhauá. “Resposta seu telegrama, informo que realmente autorizei Departamento de Saneamento estudar e construir barragem Sanhauá devendo aterros ficar para outro plano. Cordiais saudações, José Américo-ministro da Viação”. O telegrama, reproduzido por A União, em sua edição de 18 de abril daquele ano, era endereçada ao major Otílio Ciraulo, figura icônica da vida pessoense das décadas de 1940, 1950 e início da década de 1960.

Descendente de migrantes italianos, e morador histórico da cidade de Bayeux, onde tinha propriedade e uma casa onde recebia as figuras mais ilustres da política, Major Ciraulo, como era mais conhecido, gozava de grande prestígio no centro do poder paraibano. Mas também de muita popularidade. Nos carnavais, seu bloco ETL e F (iniciais da Empresa Tração Luz e Força, que fornecia energia para a cidade de João Pessoa, bastante criticada por ele durante os períodos de folia) era um dos mais aguardados.

No bloco, também distribuía censuras a granel, atingindo políticos, incialmente em charges pintadas em seu bem montado carro de som. Na sequência, por meio de um jornalzinho que fazia circular durante o chamado tríduo momesco. Dessa forma, aliado à simpatia pessoal, Major Ciraulo, também condecorado como herói da Revolução de 1930, impunha respeito no meio político. Uma vez concluída, a barragem iria aterrar o mangue e a ponte de Bayeux, extinguindo “maruins e focos de mosquito comuns naquele trecho da cidade”, promovendo, além disso, o “embelezamento da entrada para o centro urbano”.

Ciraulo sonhava, ainda, com a “existência do maior viveiro de peixes de todo o Nordeste e Norte do país”. Quis o destino que quatro meses após o telegrama enviado ao idealizador da Barragem do Sanhauá, José Américo tivesse de deixar o Ministério da Viação, após o suicídio do presidente Getúlio Vargas. Contudo, além de adiar a ideia de aterro, de imediato, os estudos iriam incluir o efeito da barragem nas marés e a relevância do mangue, certamente. Major Ciraulo morreria em 1963 sem ver o seu desejo da Barragem do Sanhauá sequer sair do papel. Hoje, ele nomeia o viaduto do km 82,7, da BR-101, em Bayeux, acesso ao Aeroporto Internacional Castro Pinto.

(A foto da Ponte de Bayeux, que ilustra a matéria, buscada no site da prefeitura local, é antiga).