quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A bola perfumada

26, maio, 2023

Imaginem vocês uma criança que não pode jogar bola, porque a mãe proíbe. Coitada de minha mãe; não a culpo por isso. Viúva muito jovem, apegava-se ao filho mais novo, um dos poucos que vivia com ela em casa, e usava da superproteção.

Como já disse, minha mãe me proibia de jogar. Era uma luta para praticar as peladas do Campo do Óleo. Era preciso esperar um descuido de minha mãe, para… Záz! Escapulir. O pior momento era o de chegar a casa; inventar mil desculpas; esconder o suor e o cabelo assanhado.

Para acabar de acertar, minha mãe odiava que eu jogasse de goleiro. Avisava: “No colégio, se o professor de Educação física inventar jogo, não jogue de goleiro”. “Mas por que, mamãe?” “Vem uma bola, bate no seu olho e você cega. Tudo, menos jogar de goleiro”.

O pior é que eu adorava jogar de goleiro. Adorava ser comparado a meus ídolos, Celimarcos e Menininho; ambos, goleiros do Esporte de Patos; o último, mais “parecido” comigo, porque, como eu, era baixinho.

-Já viu goleiro baixinho!?

-Já; e Menininho?

Um dia, dei uma lição em quem achava que goleiro baixinho não prestava. Numa disputa para ver quem seria o titular do time de handebol do Estadual de Patos, Bastinho, o técnico e introdutor desse esporte na cidade, me escolheu para titular. E isso após um grande embate como Jônathas (Biriba), que era alto e parecia com Zé Pereira, goleiro do Nacional. Após muitos treinos, Bastinho me escolheu, e eu dei o maior show, numa memorável tarde de torneio, na quadra do Estadual, quando Patos conheceu o handebol.
Meu sonho de handebol se acabou quando meu irmão Francisco dedurou que eu não ia ao Estadual cinco da manhã para fazer física, mas sim, para jogar handebol.

Era verdade. Enganei minha mãe, para poder treinar. Não poderia dizer que era treino de handebol, porque ela não me deixaria ir. Inventei a desculpa de Educação física e, dia sim, dia não, saía para treinar na “escolinha” de Bastinho.
Mas e a bola perfumada?

(continua, semana que vem).
(Crônica do meu livro: “O Estranho Professor de Violão”, Ideia editora, 2022, Págs. 64/65/66).