A natação competitiva evolui em todos os anos, junto com a ciência e as novas tecnologias. E essa história não vem de hoje. Em dezembro de 2009, a FINA – Federação Internacional de Natação vetou a era dos supermaiôs na natação profissional, apontados como principais responsáveis pela chuva de recordes mundiais quebrados naquela época, sobretudo, nas duas últimas temporadas.
Fabricados com poliuretano, os trajes tecnológicos que auxiliam na flutuação do nadador e também repelem a água, tornando mais fácil e veloz o deslocamento dos atletas durante as provas, foram proibidos pela Federação Internacional de Natação (Fina). Serão permitidos apenas maiôs feitos com material têxtil. Fica vetado o uso de “qualquer dispositivo ou maiô que possa aumentar a velocidade, a flutuação ou a resistência durante uma competição”, de acordo com a regra da entidade máxima do esporte.
Também serão proibidas as peças que cobrem o corpo inteiro do atleta. No masculino, estão liberadas apenas as sungas e bermudas. Entre as mulheres, os maiôs não podem passar dos joelhos. A medida foi criticada por alguns nadadores e ex-atletas e comemorada por outros.
“Deixa tudo, flutua o quanto quiser, exige alguns pontos específicos e deixa o atleta nadar. Vai chegar um momento em que não importa se o atleta está fazendo 46s, 48s, 49s, 50s na prova de 100m peito, 100m borboleta, o recorde sempre vai ser quebrado”, defende o ex-nadador Gustavo Borges. “Eles voltaram um pouco atrás, numa decisão mais conservadora”, completa.
Apesar de o veto aos trajes tecnológicos, o tema ainda causa polêmica. “Muda bastante, porque a gente faz um trabalho para usar a roupa, faz treino com a roupa para se adaptar a nadar com a roupa. Depois que você já está todo adaptado, aí tira a roupa e fica nessa lambança toda”, complementa Nicholas Santos, recordista sul-americano dos 50m borboleta.
Desde que os supermaiôs entraram em ação, mais de 200 recordes mundiais foram quebrados. Somente nos Jogos Olímpicos de Pequim, em agosto de 2008, foram 25. Um ano depois, no Mundial de Roma, outras 43 melhores marcas do mundo caíram, entre elas a dos 100m livre, cujo novo dono é o brasileiro Cesar Cielo, com 46s91. Nem atletas nem treinadores sabem ao certo quais serão as mudanças de desempenho daqui para frente, mas os primeiros testes já indicam um aumento do tempo.
“A gente tem que cair polido, raspado, para saber como vai ficar, para comparar quando a gente estava com a roupa em uma competição. Mas eu acredito que o tempo vai aumentar 1s5 mais ou menos no 100m livre e 0s8, ou 1s nos 50m livre”, avisa Santos.
Outro ponto de discussão é o esforço físico realizado pelos atletas. Acostumados às facilidades causadas pelos supermaiôs, alguns nadadores podem apresentar dificuldade para disputar provas a que estavam habituados e demorar mais tempo para se recuperar de uma bateria para outra. “Quando você nada com a bermuda, você sai da prova quebrado, dolorido, corpo inteiro doendo. E a roupa já te poupa um pouco mais”, aponta Santos.
A polêmica do veto aos supermaiôs não está restrita apenas às piscinas. As marcas de produtos esportivos, que investiram na produção dos trajes tecnológicos nos últimos anos, sentem-se prejudicadas por não poderem mais comercializar as peças que foram quase obrigatórias para nadadores de todo o mundo nas duas temporadas passadas.
No entanto, há quem acredite que os supermaiôs não exerçam tanta influência no desempenho dos nadadores. Entre eles está Felipe França, vice-campeão mundial dos 50m peito e ex-recordista mundial da prova. “Acho que não tem nada a ver esse negócio do traje. Acho que é só treinar que o recorde vai cair. Não sei o quanto vai cair, mas treinando vai cair logo mais”, afirma. Nas categorias de base da natação esses trajes não são baratos, e por isso só tem acesso os atletas com maior poder aquisitivo. Por isso, além da polemica tecnológica, os aspectos sociais devem ser considerados para que as provas na natação de base sejam coerentes e competitivas.