sexta-feira, 9 de maio de 2025

As marinetes

27, abril, 2025

Entre os bondes e os ônibus modernos, o transporte coletivo foi parcialmente dominado por um tipo de veículo meio precário chamado marinete. Não eram, como hoje, tantos os bairros de João Pessoa, já que estou falando num período que fica entre as décadas de 1950 e 1960. Contudo, além de servirem ao perímetro urbano pessoense, havia marinetes para as cidades mais próximas.

Constituíam-se em veículos adaptados, geralmente caminhonetes alongadas ou pequenos caminhões que recebiam carrocerias cobertas e bancos de madeira para transportar passageiros.

Não raramente, tinham um detalhe que hoje parece cena de filme antigo: o motor era acionado manualmente, usando uma manivela de ferro na frente do veículo. Pelo que me lembro, havia marinetes para Roger, Mandacaru, Torre e Expedicionários, Jaguaribe, Cruz das Armas, Marés, Bayeux, Santa Rita, Espírito Santo e Sapé. Pelo interior adentro as marinetes sustentaram por muito mais tempo o transporte de pessoas e mercadorias.

Em João Pessoa, os pontos de parada que me chegam ao plano da memória existiam na rua Treze de Maio, bem ao lado da Igreja das Mercês, dois no Ponto de Cem Reis, no meio fio da calçada da Visconde de Pelotas e de frente para o Paraíba Hotel, na Praça Venâncio Neiva (a do Pavilhão do Chá), nas Trincheiras, na Praça Pedro Américo e na Praça Álvaro Machado, os dois últimos, no Varadouro. Muito provavelmente, outros havia, mas não recordo.

As marinetes, em sua maioria, tinham um motorista proprietário conhecido e vivências próprias — alguns eram famosos pelo capricho, pelo jeito de falar e jargões próprios, outros pela velocidade, outros ainda pelo jeito de decorar o carro. Para muita gente, a marinete era mais do que meio de transporte: era parte do cotidiano, palco de encontros, de prosas animadas e, naturalmente, de namoros. A viagem de marinete era uma aventura coletiva onde todo mundo, de alguma forma, se conhecia ou se reconhecia.

Com o tempo, as marinetes foram sumindo das ruas, substituídas pelos ônibus maiores e mais modernos. Mas quem viveu essa época ainda guarda o som do motor roncando, a freada brusca na parada improvisada e a alegria simples de viajar na companhia de vizinhos e amigos.

O nome marinete provém do poeta italiano Marinetti, criador do movimento de poesia autodenominada de futurista, ele, que se aventurou pelo fascismo italiano, e esteve no Brasil em duas ocasiões: 1926 e 1936. O poeta acabou servindo de inspiração a um empresário baiano, no batismo de uma empresa de transporte urbano em Salvador. Daí, a denominação ganhou o país.

(A foto foi postada no Facebok pelo poeta Águia Mendes, e mostra antiga marinete da linha Circular Jaguaribe, 1961. Na foto, seu Geraldo Araújo da Silva, cobrador. A Marinete estava estacionada na João da Mata. Do Acervo Milena Auxiliadora Castro).