No contexto da preservação patrimonial e urbana, a memória afetiva se manifesta na ligação emocional coletiva da cidade com lugares, pessoas, fatos ou prédios históricos. Esse tipo de sentimento reforça a importância do memorialismo e da conservação desses espaços como parte da identidade e do pertencimento social. Li na edição de ontem de O Globo online, que a retirada de um letreiro moderno expôs novamente a fachada original de uma padaria histórica carioca, em Ipanema, inaugurada em 1917, que, segundo a matéria, faz parte da memória afetiva do Rio.
O local, objeto do interesse de construtores locais para a edificação de edifícios, graças à boa sorte, foi adquirido por um cearense sabido que vive a comprar construções antigas na cidade, resgatando suas vocações, e, certamente, ganhando dinheiro com isso, senão não continuaria fazendo o mesmo.
Lembrei logo de João Pessoa, onde essa prática de letreiros modernos encobrindo fachadas antigas, que geralmente continuam preservadas por trás, é muito comum. A Duque de Caxias e a Praça Vidal de Negreiros está cheia deles. Essa sobreposição, muitas vezes realizada sem critérios estéticos ou técnicos, compromete a leitura histórica do espaço urbano, descaracterizando edifícios que deveriam ser valorizados.
Placas luminosas, banners e anúncios publicitários terminam por encobrir detalhes como azulejos, ornamentos e molduras que fazem parte da identidade histórica local, provocando forte dilema entre preservação do patrimônio arquitetônico e necessidade de adaptação ao comércio contemporâneo.
Em algumas cidades, regulamentações exigem que letreiros respeitem a arquitetura do imóvel, utilizando materiais e formatos que dialoguem com o contexto. Soluções como placas menores, tipografias inspiradas na época de construção e iluminação discreta podem garantir a visibilidade comercial sem prejudicar o patrimônio.
A primeira foto, mostra letreiros cobrindo fachadas de prédios na Duque de Caxias/Ponto de Cem Reis. A outra, belas fachadas originais na própria Duque de Caxias, próximas à Praça João Pessoa, que escaparam (por enquanto) de serem encobertas.