Quem foi ao Teatro Ednaldo do Egypto, em João Pessoa, no último fim-de-semana recebeu o melhor presente que qualquer amante das artes pode ter: um teatro lotadinho, com um público super interativo e dois espetáculos maravilhosos.
Me refiro aos espetáculos “A Cigarra e A Formiga, Sim Senhor!”, com direção de Letícia Rodrigues, e “De Hoje Eu Não Passo”, com direção de Sebastião Formiga e atuação da atriz Márcia Souto, marcando sua volta aos palcos depois de mais de 20 anos fora de cena.
A grandeza dos espetáculos podemos até deixar para comentar depois, mas a volta do público ao teatro, essa sim, é o que me move neste momento a escrever esse texto. Como não se emocionar ao ver todas as poltronas do Ednaldo ocupadas e funcionários correndo para trazer mais cadeiras, inclusive as poltronas da recepção do teatro, para acomodar todo mundo?
A diretora do teatro, Letícia Rodrigues, não cabia em si de felicidade. Era visível seu esforço para dar tudo certo, como também saltava aos olhos sua alegria ao subir ao palco antes de começar o espetáculo infantil e saldar o público.
“Hoje é o Dia Internacional do Teatro e é também o aniversário deste teatro (O Teatro Ednaldo do Egypto foi inaugurado em 27 de Março de 1995). Vocês não têm noção da felicidade que sentimos em ver essa casa cheia. Sem a plateia não somos nada. Fazemos o teatro para vocês. Não vamos deixar esse teatro se transformar em uma igreja. A igreja tem seu lugar e o teatro é o nosso templo, ele precisa existir e resistir. Venham ao teatro, vamos lotar essa casa sempre, mostrar que ele é necessário. Através do teatro o público infantil tem divertimento, conhece histórias, mas também faz reflexões sobre amizade e tantas outras coisas importantes”, disse Leticia Rodrigues.
As lições estão no palco e fora dele. Depois de dois anos vivendo confinados e vendo tantos espaços fechando as portas, ver o Teatro Ednaldo do Egypto abrir sua cortina vermelha foi uma lição de vida. A plateia mostrando civilidade com suas máscaras (ainda necessárias) e, apesar da casa lotada, cada um respeitando seu espaço, nos dá um certo ânimo. Esse mesmo público interagindo com os atores em cena é a melhor cena que se pode ver no Dia Internacional do Teatro. E isso foi visto no Ednaldo do Egypto!
Em cena, atores de “A Cigarra e A Formiga, Sim Senhor” dando show de interpretação e improvisação, pois a interação com o público era tanta que, por vezes, os atores tinham que parar suas cenas. Uma coisa linda de se ver! Como sabemos fazer teatro na Paraíba! Como o teatro paraibano não deixa a desejar a nada que for visto de fora e isso nós temos que valorizar!
À noite, com a comédia “De Hoje Eu Não Passo”, ver uma atriz sozinha em cena dominar uma plateia, descer do palco, caminhar entre o público e fazer tudo isso com a grandeza de uma artista, não tem preço! Assim é Márcia Souto, que nos brinda com toda sua experiência de anos de teatro no Rio de Janeiro e na Paraíba, quando atuou como “Dona Baratinha” na clássica montagem do grande diretor Geraldo Jorge. Hoje, faz o público sorrir com um texto delicioso em que uma personagem descobre que este seria o seu último dia de vida. E quem quiser que se coloque no lugar! Assim é o teatro: a magia da transformação, a força de fazer o público se sentir no lugar do persongaem.
O que dizer mais sobre este Dia Internacional do Teatro? Nada mais disse nem lhe foi perguntado (Ôpa, já estou encarnado o personagem do Escrivão!).
O que dizer, então? Dizer que o público é necessário e fundamental; que o trabalho de Letícia Rodrigues para manter o Teatro em funcionamento nos salta aos olhos e que não, o Teatro Ednaldo do Egypto não vai virar uma igreja. “A igreja já tem o seu lugar e o teatro é nosso templo”, lembram disso?
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