sábado, 10 de maio de 2025

O bonde elétrico

4, abril, 2025

Há um traço memorial de infância que nunca se apagou: o bonde elétrico em João Pessoa. Eu conseguia morcegar o bicho andando. O serviço operou entre 1914, no tempo em que a energia elétrica foi instalada na cidade, até o início da década de 1960, quando o serviço parou, não apenas em nossa capital, mas em todo o Brasil.

Lembrando, ainda, que desde o final do Século XIX, havia, em João Pessoa, o bonde com tração animal. O vetusto meio de transporte, mesmo nesses tempos bem difíceis e vagarosos da utilização de animais, acabou representando muito mais do que um simples meio de transporte urbano; foi, ao ser implantado, um símbolo de progresso e modernidade, refletindo a expansão da cidade e sua vida social e cultural.

Por sua vez, a implementação do bonde elétrico facilitou o deslocamento para áreas mais distantes, impulsionando o desenvolvimento de novos bairros e o crescimento urbano. Os bondes do meu tempo (falo da década de 1950), com parada obrigatória no Ponto de Cem Reis (que herdou o apelido justamente por conta do preço das passagens do referido meio de transporte), chegavam ao Roger, Mandacaru, Imbiribeira (Tambauzinho), Miramar, Tambaú ou apenas para Cruz do Peixe, na Juarez Távora, onde ficava a garagem da empresa, no local onde hoje se situa a Usina Cultural Energisa.

Além disso, havia linhas de bonde para o Comércio e o Varadouro, Cruz das Armas-Oitizeiro e Jaguaribe, marcando a época de uma João Pessoa que atravessava o tempo de forma mais tranquila e humana. Mais do que transporte, o bonde era lugar de troca, de conversa, de cotidiano dividido. Embora os bondes não circulem mais, seu legado persiste na memória da cidade e nos vestígios dos trilhos que ocasionalmente aparecem com o derretimento do asfalto.

Na antiga foto, o bonde, no Ponto de Cem Reis, onde se vê o Paraiba Hotel antes de sua primeira grande reforma, ainda ostentando uma balaustrada.